Peça Os Mamutes é a atração do Espaço Sesc, no Rio

“Você é aquela atriz daquela peça em que o pessoal se diverte?” A atriz é Débora Lamm, a peça é As Conchambranças de Quaderna, de Ariano Suassuna. A pergunta inusitada ela ouviu numa das muitas paragens do espetáculo, que desde 2010 viajou do Cariri ao Sul. A montagem já rendeu prêmios e indicações (Shell, Qualidade Brasil, de produtores) aos atores e à diretora, Inez Viana, além de muita diversão, uma grande amizade e a vontade de permanecer juntos.

Eles estão de volta, na recém-criada companhia Omondé (“a confusão”, no vocabulário da peça). A nova empreitada é Os Mamutes, que estreia hoje na arena do Espaço Sesc, palco de experimentações de Copacabana. Do autor clássico nordestino de 84 anos, membro da Academia Brasileira de Letras, passaram ao carioca Jô Bilac, de 26 anos, foco de atenção de público e crítica desde os 19, e dono de um Shell de autor, por Savana Glacial.

Isadora (Débora) é uma menina de 9 anos, de risada de vilã de desenho animado e apelido autodeclarado “Faca no Peito”, que assusta e intriga por ser tão precoce quanto perversa. Ela escreve em seu caderninho uma história que tem como figura central Leon (Diogo Camargos), um rapaz ingênuo que é impelido a se corromper para sobreviver. À procura de emprego, acaba numa grande rede de lanchonetes, a Mamute’s Food, cuja garota propaganda é uma apresentadora de programa infantil que não suporta crianças (Cristina Flores).

Seria um Mc Donald’s, mas o seu hambúrguer é de carne humana. E para trabalhar lá é preciso abater presas a serem transformadas em sanduíche. Logo no início da peça, Isadora cita a morte de 123 pessoas numa “verdadeira chacina banhada em pipoca doce” – que lembra o caso de Mateus Costa Meira, o atirador do cinema do Morumbi Shopping. A diferença é que na peça, os mortos, chamados de mamutes, são pessoas “das quais ninguém sente falta”, gente desonesta, má.

Os Mamutes foi o primeiro texto de Jô, escrito aos 18 anos, e contém o “encanto com a despretensão irreverente de um olhar adolescente”, conforme sua análise retrospectiva. Distingue-se do que viria (Limpe Todo o Sangue Antes Que Manche o Carpete,Cachorro, Rebu) a começar pelo grande número de personagens (são 11 atores em cena).

“Venho escrevendo textos com pouquíssimos personagens, sempre enredados em um questão familiar e amorosa. Os Mamutes reflete uma fase inicial da minha escrita, mais política ao que tange esse desejo de gritar com o mundo. Hoje sou mais malandro”, diz Jô. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Voltar ao topo