Peça em SP recria universo do escritor Edgar Allan Poe

Para dar conta de recriar o universo taciturno do escritor americano Edgar Allan Poe (1809-1849), a Companhia Nova de Teatro foi além de cenário, figurino e texto. Em “A Cripta de Poe”, espetáculo que estreia amanhã, o diretor e dramaturgo Lenerson Polonini utiliza outras linguagens, incluindo dança, vídeo, música eletrônica e até moda para criar uma peça marcada pelo apelo visual, que tenta dar conta do universo psicológico dos personagens.

Inspirado nas obras O Retrato Oval, Berenice, O Espectro, Ligeia, Annabel Lee e O Corvo, a montagem, que também marca os dez anos do grupo paulistano, é uma parceria com a Cia. Teatro Del Contagio, trupe radicada em Milão. Em cena, os italianos Omero Affede e Carmen Chimienti (que terão suas falas legendadas) e os brasileiros Carina Casuscelli, Rosa Freitas e Daniel Sommerfeld mostram uma narrativa entrecortada, que investiga o amor platônico, ao mesmo tempo em que trata de jogos obsessivos. “A peça aponta para essa impossibilidade do amor, um tema caro ao romantismo. As mulheres estão mortas, mas a forma como o narrador as cita faz com que elas estejam presentes”, explica Polonini. “Para eles, o amor se concretiza em um outro plano”, diz.

Por esse caminho, o espetáculo tem como tema principal a apresentação do duplo, ou seja, o que surge a partir do inconsciente desses seres. Parte da representação dessas mentes inquietas se dá por meio de uma série de vídeos, apresentados em três telões no palco, que se transformam numa espécie de instalação. “Criamos uma estrutura videográfica capaz de reverberar esse fluxo de pensamento”, diz o diretor. As projeções servem também como cenário, fonte de luz e textura.

As imagens mentais levam à discussão da origem de conflitos psicológicos, tema comum nas obras de Poe. “No conto Ligeia, por exemplo, o protagonista está sob o feito de ópio, tendo visões fantásticas. Ele relata uma estranha atração pelos olhos de Ligeia. Já em Berenice, a obsessão são os dentes”, esclarece Polonini.

A aura de sonho que ronda toda a concepção da peça ganha força pelo uso de outras linguagens artísticas. Assinada pelo pesquisador de música eletrônica Wilson Sukorski, a trilha pontua o clima sombrio. Um dos elementos que compõem o som é uma série de temas para órgão. A dança entra na marcação dos movimentos dos atores. Já a moda surge nos figurinos de Carina Casuscelli, parceira de Polonini, que é formada na área e levou em conta tendências para criar as vestimentas.

Por sua vez, o canto aparece num trecho de texto musicado pelo grupo. “A canção fala sobre a situação de títere do personagem”, revela. Por fim, outro recurso utilizado na encenação é uma narração em off e um vídeo, em que o ator Paulo César Pereio surge representando “O Corvo”. Polonini e Pereio já trabalharam juntos em “Aquela Vez” e “Escuta Zé Mané!”.

O interesse por uma maneira diferente de fazer teatro é o que move o trabalho de Polonini. “Estamos vivendo em uma era multimidiática. Então, quem vê a peça sai com essas imagens em seu HD mental. Me interesso pelo tipo de movimentação que isso provoca”, conclui. As informações são do Jornal da Tarde.

A Cripta de Poe – Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000). Tel. (011) 3397-4002. Estreia: amanhã, às 21h. Quintas, sextas

e sábados, às 21h. Domingo, às 20h. Até 18/12. 14 anos. Ingressos: R$ 20.

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