Peça de Silvia Gomez revela o desespero humano sem concessão

Uma mulher (Débora Falabella) é entrevistada por uma assistente social (Anapaula Csernik) como etapa do processo de adoção de um bebê. Durante a conversa, no entanto, a situação fica fora do controle, o que obriga a presença do marido da entrevistada, Rubesn (Jorge Emil), no local. Fora dali, uma superpopulação de lobos toma ruas, calçadas e linhas de metrô. E, dentro da sala, um lobo selvagem acompanha em silêncio o desenrolar da conversa.

“É muito próprio da poética da Silvia, de suas escolhas, este local de iminência no qual coloca seus personagens, do flagrante descompasso entre eles e o cotidiano que os cerca”, comenta o diretor Eric Lenate, responsável pela encenação de Mantenha Fora do Alcance do Bebê, intrigante peça de Silvia Gomez, que estreia nesta sexta-feira, 12, para convidados e inicia a 1ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos, no Centro Cultural São Paulo.

Diretor de peças como a recente Ludwig e Suas Irmãs, Lenate conta que seu olhar para esta montagem surgiu a partir do lobo. “Quantas possibilidades existem de se ‘amarrar’ um lobo selvagem? O que significa esse ‘amarrado’ para o quadro total do espetáculo? Conseguem perceber como Silvia nos ceifa qualquer possibilidade de sermos tacanhos ao abordá-la?”, questiona. “A maioria de nós está cotidianamente à beira de um colapso. Poucos temos a coragem de admiti-lo.”

Lenate admira a capacidade de Silvia em dar voz ao desespero humano, franca e abertamente, sem rodeios ou concessões. A mostra de dramaturgia continua com O Taxidermista, de René Piazentin, que estreia 10 de julho, e Memórias Impressas, de Claudia Schapira, dia 31 de julho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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