Paradise now questiona sacrifício

Após a Academia de Artes e Ciências de Hollywood anunciar os indicados para a disputa do Oscar, fica evidenciado que por mais que o cinema constantemente lance filmes comerciais, diretores e atores travam uma luta para levar às telas temas condizentes com a realidade. Não é à toa que longas independentes e de baixo orçamento como Brokeback Mountain, Crash e Boa noite e boa sorte foram indicados. Entre os indicados para melhor filme em língua estrangeira, Paradise now, com estréia nos cinemas amanhã, aborda os conflitos entre israelenses e palestinos, e a moralidade pela disputa dos dois povos. É a primeira vez que um filme palestino é indicado ao Oscar.

Os demais estrangeiros indicados são Joyeux Noël (França), Sophie Scholl – uma mulher contra Hitler (Alemanha), La bestia nel cuore (Itália) e Tsotsi (África do Sul). Na entrega do Globo de Ouro, o filme palestino levou a melhor, e agora é um dos favoritos ao Oscar. O filme é um drama sobre a história de dois amigos de infância que vivem na cidade de Nablus, na Cisjordânia, e são chamados por um antigo companheiro para executar um atentado suicida em Tel Aviv. Após receberem a notícia que, no dia seguinte serão enviados para realizar uma missão como dois homens bombas, Khaled (Ali Suliman) e Said (Kais Nashef) passam a noite com suas famílias a fim de se despedir da vida com honra, e acima de tudo, buscar a liberdade.

Logo que amanhece, os dois protagonistas são levados para um esconderijo onde são apresentados ao guerrilheiro Abu-Karem, que exalta a causa palestina e lhes descreve o plano. O personagem simboliza a revolta do povo palestino por ter suas terras ocupadas por Israel. Na contra mão ideológica do sacrifício humano como caminho para conseguir a liberdade, Suha, filha de um símbolo da guerrilha palestina que recém voltou para o país, se opõe a guerra e tenta mudar a opinião de Khaled e Said em relação à morte e ao sacrifício. Ainda que seja imparcial em relação aos pontos de vista da disputa árabe, o filme explora as razões para a resistência à ocupação, e se coloca contra aos ataques suicidas.

A grande questão que Paradise now evoca é o motivo que faz do destino de centenas de palestinos a morte pelo autosacrifício. Para caracterizar os homens-bomba, o diretor Hany Abu-Assad estudou relatórios de suicidas que falharam e de oficiais israelenses, além de conversar com amigos e familiares de homens-bomba. Abu-Assad afirmou que não existe um estereótipo destes homens e que cada um tem sua própria história. "O filme pretende apenas estimular o debate e torço para que provoque uma discussão produtiva acerca das verdadeiras questões em jogo", declarou recentemente.

Como na noite de 5 de março Paradise now será anunciado como um dos indicados ao Oscar, o governo israelense e grupos judeus dos Estados Unidos têm se manifestado em relação a forma como o filme é chamado. A polêmica é se o filme será tido como da Autoridade Palestina ou da Palestina. Como  ainda não é considerada um estado independente, os judeus batem o pé contra a pronúncia de Palestina.

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