Palavras cruzadas têm 92 anos

Cruzar palavras, descobrir significados, exercitar o raciocínio. Um dos mais antigos hábitos da sociedade, seja entre estudantes, donas-de-casa ou profissionais de várias áreas, está completando 92 anos. As palavras cruzadas fazem sucesso em todo o mundo e o Brasil é hoje o quarto maior mercado consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos, França e Itália.

Em 21 de dezembro de 1913, Arthur Wynne sentou-se em sua mesa de trabalho no jornal New York World e desenhou para o suplemento dominical um novo jogo. O primeiro diagrama de palavras cruzadas tinha a forma de um diamante, 16 respostas horizontais e 14 verticais e já trazia preenchida, de forma profética, a palavra FUN (alegria ou divertimento, em inglês). Inicialmente chamado de ?word-cross puzzle?, a novidade virou febre nos EUA e em 1925 chegou ao Brasil nas edições do jornal carioca A Noite.

As palavras cruzadas são quase centenárias, mas acompanharam o passar dos anos e agora existem em versão on line e até na tela do celular. A Ediouro, há 57 anos publicando a Revista Coquetel, líder no segmento, lançou há dois anos o jogo on line, em seu site www.coquetel.com.br. Hoje, já são quase 300 mil internautas cadastrados, brincando de cruzar palavras pela internet.

Em junho deste ano, disposta a provar que o passatempo não é diversão apenas para a terceira idade, a editora lançou, em parceria com a Vivo, um serviço que oferece palavras cruzadas na tela do celular. ?Percebi que as palavras cruzadas, um produto tradicional e de grande aceitação, precisavam se adequar às novas mídias, cada vez mais popularizadas e, assim, atrair públicos mais jovens?, explica Hegel Braga, diretor de operações da Ediouro/Coquetel.

Diferentemente do que se pensa, a maioria dos consumidores de palavras cruzadas não é idoso. A Ediouro concluiu por meio de pesquisas que 74% dos seus consumidores fidelizados têm entre 16 e 45 anos. A editora tem  70 diferentes tipos de revistas mensais, com tiragem superior a dois milhões de exemplares – a maior linha de revistas de passatempos do País.

Nascidas como entretenimento, ao longo dos anos as palavras cruzadas foram transcendendo o mero jogo recreativo. Atualmente, são usadas também como ferramenta de apoio à educação. Estão presentes nas escolas, no apoio ao ensino de crianças e jovens; em cursos técnicos e até na alfabetização de adultos. O projeto ?Coquetel nas Escolas? começou em 2001 e até hoje mais de 16 mil colégios públicos e privados do país já se cadastraram para receber, gratuitamente, as revistas Coquetel que são usadas em sala de aula.

Além de integrarem o material didático de milhares de estudantes, são recomendadas também como prevenção ao Mal de Alzheimer e ajudam até na alfabetização de presidiários.

A geriatra Fátima Christo, consultora da Assossiação Brasileira de Alzheimer, diz que as palavras cruzadas são um dos melhores exercícios para estimular o cérebro. ?Como qualquer outro órgão, o cérebro precisa ser estimulado para não atrofiar. A ausência de estímulo pode causar até quadros de demência, como o Mal de Alzheimer. Eu recomendo as palavras cruzadas aos meus pacientes como prevenção e no tratamento dos casos menos avançados.?

Além do investimento em palavras cruzadas, a Ediouro está apostando também no ?Sudoku?, um jogo de números que faz sucesso em todo o mundo e já começa a ter ótima aceitação no mercado brasileiro. Já está nas bancas a revista ?Coquetel Sudoku Numerox? – tradicional, médio e difícil e em formato de bolso. O Sudoku também está presente nas revistas infantis Picolé, Nickzone, Coquetel Disney e Brincando e Aprendendo.

Curiosidades

* Brincadeiras com palavras já eram populares desde o Antigo Egito, mas sem finalidade de adivinhação, e sim como modo de ordenar frases em mais de um sentido com o mesmo significado ou dispô-las em formas geométricas. Também eram populares os acrósticos (palavras formadas com a primeira letra de cada verso).

Embora as Cruzadas sejam de 1913, o primeiro diagrama de letras conhecido remonta a Pompéia, colônia romana destruída pela erupção do vulcão Vesúvio, em 79 d.C. É um quadrado de cinco letras em cada lado, com palavras que podem ser lidas em qualquer sentido, horizontal ou vertical: Sator/Arepo/Tenet/Opera/Rotas.

* Durante a ascensão nazista na Alemanha, na década de 30, as palavras cruzadas foram usadas como um meio secreto de comunicação dos opositores de Hitler.

* Na Segunda Guerra Mundial veio o troco; os nazistas, aproveitando-se da inclinação dos ingleses pelas palavras cruzadas, deixaram cair sobre Londres folhetos de palavras cruzadas contendo propaganda política.

* No Brasil, durante o Regime Militar, a censura temia que mensagens pudessem ser transmitidas por meio de palavras cruzadas, e implicava com algumas definições que considerava tendenciosas. Cavaleiro da Esperança era uma das expressões suspeitas. Como esse era o apelido de Luís Carlos Prestes, então secretário-geral do PCB, foi preciso algum esforço para convencer a censura de que o termo histórico poderia ser encontrado em qualquer dicionário.

Depoimentos

Palavras cruzadas eu adoro! Compro das mais fáceis às mais difíceis. É um exercício excelente de vocabulário, e agilidade mental. Manoel Carlos, novelista

Adorei me ver no Coquetel. Foi uma honra enorme! O meu prestígio subiu perante a minha mulher. Zú ama as palavras cruzadas e ficou supervaidosa ao encontrar o nome do marido como um tema da Cripto. Juca de Oliveira, ator

Sou fissurado em palavras cruzadas. É um velho hábito que tenho. Só gosto das difíceis. Às vezes eu me intimo, essa aqui você tem que terminar em 10 minutos. Benedito Ruy Barbosa, novelista

Faço palavras cruzadas há pelo menos 30 anos. Não só para testar meus conhecimentos, mas para me distrair e manter meu vocabulário estimulado. Nos momentos mais curiosos eu faço palavras cruzadas.

Quando preciso tomar uma resolução, a palavra cruzada me faz pensar na decisão enquanto me divirto, raciocino. É um divertimento realmente agradável, estimulante, enriquecedor. Tony Ramos, ator

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