Paixões induzidas pelo ibope

O amor nunca sai de moda na tevê. Também pudera. Programas que promovem encontros amorosos sempre alcançam boa audiência. Por isso mesmo, apresentadores como Márcia Goldschmidt, da Band, Sônia Abrão, do SBT, e Fernanda Lima, da MTV, buscam inspiração em Sílvio Santos, o precursor do gênero no Brasil com Namoro no Escuro, exibido pela Tupi em 1965, e assumem o papel de “cupidos eletrônicos”. Mais do que juntar corações solitários, eles estão ávidos é para angariar uns pontinhos a mais no ibope.

Não por acaso, Márcia Goldschmidt decidiu resgatar sua “vocação casamenteira” ao ganhar um programa dominical na Band, o Bem-Me-Quer. Antes de estrear na tevê em 1998, quando comandou o Márcia no SBT, ela administrou uma agência matrimonial por sete anos. Nesse período, gaba-se de ter formado dois mil casais. Ao que parece, o desejo de encontrar alguém não é privilégio somente de “anônimos”. Alguns “nem tão anônimos”, como o cantor Latino, também estão recorrendo ao mesmo artifício. O eterno ex-namorado da cantora Kelly Key estava chorando as mágoas no Falando francamente, do SBT, quando disse que estava à procura de alguém legal para namorar. O número de meninas que ligaram querendo consolar o rapaz surpreendeu Sônia Abrão, que resolveu “agenciar” o namoro. “Criamos o site e recebemos 8 mil inscrições em 20 dias. A carência afetiva está grande!”, constata Sônia.

Além do namoro

Tão antigo quanto a própria tevê, o formato “paquera eletrônica” evoluiu bastante. Alguns programas não se contentam em promover só namoricos – realizam casamentos também. Este é o caso do Quer Casar Comigo?, do Domingo Legal, que “casou” o empresário Washington Azzi Júnior com a cabeleireira Cláudia. A transmissão do casório atingiu média de 32 pontos contra 19 do Domingão do Faustão, da Globo. Por isso, Gugu Liberato tentou repetir a experiência com Chiquinho Scarpa, mas o playboy declinou do convite. “Nós lamentamos pelas inscritas, mas o Domingo Legal é um espaço democrático e não podemos interferir na vontade de qualquer convidado”, reclamou Gugu, ao vivo, no último domingo.

Mas não é só Gugu que tenta reeditar o sucesso do formato. Luciano Huck, da Globo, testou dois exemplares do gênero, Amor a Bordo e Acorrentados, e já pensa no terceiro, Namoro às Escuras.

Apimentado

Dos atuais representantes do gênero, o Fica Comigo é o mais antigo deles. Desde que estreou, em agosto de 2000, o programa de Fernanda Lima tornou-se um dos de maior audiência na MTV. Na nova temporada, a platéia também vai poder namorar. A partir de agora, quando o convidado for menino, a platéia também vai ser formada por homens. Assim, as interessadas que disputam o rapaz vão poder tentar se arranjar com alguém da platéia depois de eliminadas. “O programa está cada vez mais apimentado. Ao mesmo tempo que alguns assumem a virgindade, outros propõem suruba”, espanta-se Fernanda Lima.

Mas o Fica Comigo ficou apimentado mesmo quando ganhou uma edição GLS em agosto de 2001. Discriminações à parte, o resultado do primeiro Fica Comigo Gay surpreendeu a própria direção da emissora musical. As edições heterossexuais costumam registrar média de 2 e picos de 3 pontos. Já a versão gay alcançou 5 pontos de audiência. Mesmo assim, Zico Góes, diretor de programação da MTV, não sabe quando a próxima edição homossexual vai ao ar. “Pouca gente aceita aparecer e dar a cara a tapa na tevê. E com razão. O preconceito ainda rola solto!”, lamenta.

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