Olhar profundo sobre as relações humanas

Após a apresentação da peça Por Elise no final de semana passado, um dos destaques da mostra Fringe do Festival de Teatro de Curitiba (FTC) 2006, o Grupo teatral Espanca!, de Minas Gerais, continua na cidade e de hoje até domingo encena a peça Amores surdos. O espetáculo foi o primeiro a esgotar os ingressos pela mostra principal do FTC, em março. O argumento, escrito por Grace Passô, é anterior a Por Elise e foi modificado após participar de um prêmio em Belo Horizonte (MG).

Com direção de Rita Clemente, no palco o elenco mostra uma história que, do banal, constrói uma metáfora sobre as relações humanas. Além de escrever a peça, Grace Passô atua ao lado de Gustavo Bones, Marcelo Castro, Paulo Azevedo e Samira Ávila. A história conta o cotidiano de uma família comum formada por pai, mãe e filhos. O caçula (Pequeno), Joaquim, Samuel, Júnior e Graziele. As relações humanas focadas são centralizadas na família. Vivendo sob o mesmo teto, os membros são individuais e não compartilham de sua intimidade, além de mostrarem total indiferença entre si. ?Essa é uma visão do ser humano e sua tendência de mecanizar relações. Fazemos uma metáfora sobre o sonambulismo. Às vezes não estamos acordados. Uma pessoa fala, a outra escuta, mas não se interessa?, afirma Marcelo Castro. Segundo o ator, o espetáculo é construído por esse tipo de diálogo.

O quanto podemos ser indiferentes àqueles que estão do nosso lado? O que acontece quando uma família perde o sentido de existir? Como as pessoas reagem? Questões acerca da involução nos relacionamentos são postas ao público como indagações a serem refletidas. Quem for à peça em busca de uma resposta deve se preparar melhor. O grupo não tem ambição de responder algo, e sim sugerir um tempo para sentar e conversar. A questão é o porquê das pessoas só se atentarem para a desunião após muito sofrimento ou quando um acontecimento de impacto transforma suas vidas.

Não dormir bem, o esquecimento freqüente, o descuido consigo e o destrato com os familiares são conseqüências que o público observa no palco do teatro, e em muitos casos são elementos que retratam suas vidas. ?Um filho mora no exterior, a filha quer abandonar a casa mas não consegue, o pai é ausente e todos vivem o caos?, diz Gustavo Bones. Segundo o ator, todo o elenco tem consciência do problema (na vida de boa parte das famílias brasileiras), pois todos são jovens e alguns moram com os pais.

Como os personagens são sociais, o figurino traz teatralidade e artificialidade para os personagens e o cenário leva a crer que se passa na casa da família. O mergulho no coletivo familiar leva todos a um único pensamento, como observa Gustavo Bones, e o próprio título da peça simplifica: ?A grande questão é o que a gente faz?.

Serviço:

Amores surdos no Teatro da Caixa (Rua Conselheiro Laurindo, 280), hoje e amanhã, às 21h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$10 e R$5 a meia entrada. Mais informações pelo telefone (41) 3321-1999.

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