‘O Palhaço’, de Selton Mello, emociona em Gramado

Duas gerações de grandes atores nacionais encontraram-se no palco do Palácio dos Festivais, na sexta-feira à noite, na abertura do 39ª Festival do Cinema Brasileiro e Latino de Gramado. Paulo José entregou a Selton Mello o prêmio Cidade de Gramado, que o ator recebeu por ter dado um rosto ao cinema do País desde os anos 1990, naquilo que se chamou de ‘retomada’. Paulo e Selton interpretam pai e filho em “O Palhaço”, que o segundo dirigiu e foi o filme que inaugurou, fora de concurso – como parte da homenagem – a maratona na serra gaúcha, que vai até o próximo sábado.

Selton foi emocionante. Lembrou que seu sonho sempre foi o cinema. Se pudesse, iria até a rodoviária de Gramado e pegaria um ônibus para 1992, para tranquilizar o garoto ansioso que foi, dizendo-lhe que, quase 20 anos e 30 filmes depois, estaria ali, no palco, sendo homenageado. Impossível não se emocionar também com “O Palhaço”. O segundo longa de Selton – após “Feliz Natal”, bem menos satisfatório – já havia sido premiado em Paulínia (quatro Meninas de Ouro, incluindo melhor direção).

De todos os festivais que se realizam no Brasil – e são muitos -, Gramado é o que tem a curadoria mais presente. O crítico José Carlos Avellar e o documentarista Sérgio Sanz, que fazem a seleção dos filmes das mostras competitivas brasileira e latina, privilegiam o cinema de autor e gostam de escolher e projetar os filmes de forma a que dialoguem entre si.

Isso foi particularmente sensível na primeira noite, quando, após “O Palhaço”, foi exibido o primeiro longa brasileiro da competição: “Riscado”, de Gustavo Pizzi. Paulo José e Selton Mello interpretam palhaços de um circo mambembe. O segundo duvida da sua vocação, como a atriz de “Riscado” também se interroga sobre as suas chances de fazer bem o que gosta (e obter reconhecimento).

Entre os filmes da segunda noite destacam-se o argentino “Medianeras”, de Gustavo Taretto, que a Imovision vai lançar em 2 de setembro, e “Ponto Final”, de Marcelo Taranto. Ambos tratam da cidade grande – Buenos Aires, no filme argentino, é onde vivem os protagonistas, ambos fóbicos. Um designer de sites e games e uma arquiteta que ganha a vida como vitrinista. Ambos discutem a cidade, cada um do seu canto, e chegam à conclusão de que as desigualdades arquitetônicas expressam a estrutura social. “Medianeras” é sobre o lento processo de aproximação desses solitários, interpretados por Javier Drolas e Pilar López de Ayala, a Angélica do “Estranho Caso de Manoel de Oliveira” (e também uma das atrizes de “Lope”, de Andrucha Waddington). O filme, exibido no Panorama, em Berlim, é encantador.

Segundo filme brasileiro da competição, “Ponto Final”, de Marcelo Taranto, trata da dor da perda, por meio desse pai cuja filha é morta, no Rio, por uma bala perdida. Como o argentino Gustavo Taretto, Taranto também quer expor as desigualdades (humanas e sociais) da metrópole. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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