O Albergue é filme de terror político

Eli Roth esteve no Brasil há cerca de duas semanas para mostrar seu filme "O Albergue", que estréia amanhã (14). Ele adora Zé do Caixão. Adoraria ter-se encontrado com José Mojica Marins, mas não foi possível. Roth anda rindo à toa. "O Albergue", que custou US$ 4 milhões, já rendeu mais de US$ 50 milhões apenas nos EUA.

Os produtores lhe acenam com altos orçamentos para que ele faça "O Albergue "2, 3… Ele já trabalha no 2, mas de preferência quer gastar ainda menos. "O público que vai ver esses filmes não quer saber de grandes orçamentos. A pobreza faz parte da atração que eles despertam sobre os espectadores. Eu mesmo me sinto melhor trabalhando com baixos orçamentos, que me obrigam a ser mais criativo."

Roth é protegido de Quentin Tarantino. Seu filme provoca um banho de sangue como raras vezes se viu na tela, mesmo nesta última safra de terror que anda particularmente sanguinolenta. A estréia, nesta Sexta-Feira Santa, deveria proporcionar material de reflexão para a cúpula da CNBB que, sem ter visto "O Código Da Vinci", já anda exortando os fiéis para que não vejam o filme que Ron Howard adaptou do best-seller de Dan Brown. Enquanto isso, num dia em que, não faz muito tempo, os cinemas só exibiam "A Paixão de Cristo", o que entra hoje é esta fantasia sobre jovens americanos perdidos na Europa e confrontados com uma organização que cobra caro para que milionários possam exercer seu esporte favorito. Matar gente.

A forma de matar fica por conta de quem paga. Pauladas, serra elétrica, tiro, ácido, remoção de órgãos sem anestesia. Vale tudo. Roth disse que teve a idéia sinistra por causa da internet. Em países como a Tailândia, circulam na internet histórias sobre famílias que cobram US$ 10 mil para que você faça não importa o que com alguns de seus integrantes. Roth juntou a esse horror uma experiência pessoal. Ele próprio, anos atrás, foi a Paris como mochileiro e depois circulou pelo Leste Europeu, na fase da derrocada do comunismo. Encontrou um mundo devastado e sem valores. Juntando a internet e esse assustador mundo velho, ele fez "O Albergue".

No original, chama-se Hostel e o som é o mesmo para a palavra hostil, em inglês. "Queria justamente explorar o duplo sentido", explica o diretor, que cita com grande orgulho o que lhe disse George A. Romero. "Seu filme é o terror mais político desde A Noite dos Mortos Vivos." Romero referia-se ao filme que ele próprio realizou em 1968, concentrando todos os problemas dos EUA assolados pela Guerra do Vietnã e pelos conflitos raciais, além de assassinatos políticos, na história do grupo que resiste às investidas de mortos vivos.

Tudo faz sentido em "O Albergue". Cada frase, cada imagem. Tudo foi cuidadosamente planejado por Roth. Crítico do presidente George W. Bush e do processo de globalização que avilta a pessoa humana e cria padrões de competitividade que anulam os excluídos, ele diz que o mundo nunca foi mais propício à realização de filmes de horror que na atualidade. "Há uma saturação da violência e uma indiferença pelo sofrimento alheio que tudo permite." Roth não sabe até que ponto as histórias da internet são verdadeiras. Espera que o consumo de seu filme não seja fácil. "Fiz O Albergue para provocar mal-estar", afirma.

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