O adeus à mítica atriz dos clássicos de Ozu

Há mais de meio século ela havia abandonado o cinema, mas Setsuko Hara, a eterna virgem do cinema japonês, nunca foi esquecida. Tornou-se perene na lembrança do público, que sempre a associou ao mestre Yasujiro Ozu, de quem foi atriz em três grandes filmes – Era Uma Vez em Tóquio, Dia de Outono e Fim de Verão. Em agosto, Setsuko precisou ser hospitalizada. Morreu em 5 de setembro, mas o sobrinho guardou o segredo por quase três meses, atendendo ao pedido da morta. Ela não queria que se falasse da sua doença. Sabia que se convertera numa imagem na lembrança dos cinéfilos. Tinha 95 anos.

Masae Aida, seu nome verdadeiro, tornou-se atriz nos anos 1930. Rapidamente, adquiriu o status de estrela do cinema japonês. Filmou com grandes diretores – Akira Kurosawa, Tadashi Imai e Mikio Naruse. Mas a parceria que marcou foi com Ozu. O mais minimalista dos grandes diretores, e não apenas do cinema japonês, gostava de fazer seus filmes com a câmera ligeiramente baixa, na altura dos olhos de um observador sentado na esteira de tatame. Esse visual único era colocado a serviço de um tema quase único – a dissolução da família tradicional num Japão que, após a derrota na 2.ª Grande Guerra, se modernizava (e ocidentalizava).

Era Uma Vez Em Tóquio, de 1953, também conhecido como Viagem a Tóquio ou Conto de Tóquio, é sobre casal de velhos que viaja à capital japonesa para visitar os filhos, que não têm tempo para eles. Setsuko faz a nora que melhor se entende com os sogros. O filme é feito de silêncios, de pequenos gestos. O velho sogro é interpretado por Chisu Ryu, ator mítico de Ozu. O cineasta morreu em 1963. Há um mito segundo o qual teria morrido no mesmo dia do nascimento, ao completar 60 anos, mas algumas fontes dão diferentes data de nascimento e morte. Chisu Ryu fez um papel em Sonhos, de Akira Kurosawa, em 1990 – há 25 anos -, no que não deixou de ser uma homenagem a Ozu. Setsuko e ele aparecem na foto. Olham silenciosos para alguma coisa fora de quadro. A imagem não poderia ser mais característica do cinema humanitário de Ozu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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