Novas cores

Na década de 80, houve uma turma que elevou o preto ao status de culto máximo no rock britânico. Apesar da diferença sonora, uns mantinham o que restava da agressividade punk e do balançante pós-punk, outros buscavam em uma passado ainda não tão remoto assim referências do psicodelismo, bubblegum, rock-n?-roll. Do Rockabilly ao hard rock a cor era o que os unia. Carregados de adereços (chapéus, lenços, pusleiras) e maquiagens (unhas, bocas e olhos quase sempre pintados), completavam o visual exótico com cabelos escuros, de cortes irregulares e fios muitas vezes arrepiados. A esta tribo aqui se deu o nome de dark. Ao som, o rock gótico, que teve estandartes como Killing Joke, Sisters of Mercy, Cure, Siouxsie & The Banshees, Dead Or Alive, Echo & The Bunnymen, Jesus & Mary Chain, Mission, Fields of Nephilim, Alien Sex Fiend, Bauhaus, Nick Cave and The Bad Seeds.

O tempo passou e a corrente gótica misturada ao rock permaneceu. Mudanças ocorreram, como a incorporação do contraste com cores menos sombrias e flertes com vertentes sonoras como o heavy metal (que também usa a cor preta por excelência) e o eletrônico. Bem ou mal, os mais velhos permaneceram vagando pelos palcos mundiais, bem menos celebrados, muitas vezes zombados e taxados de decadentes, mas mantidos vivos (em shows, discos e DVDs) pela imensa legião de fãs mais novos, graças ao poder avassalador da internet, ou da mesma época que os músicos.

Wayne Hussey é um deles. O músico completará meio século de vida em maio (e se juntará a uma galeria respeitável de novos cinqüentões do rock, como Madonna, Prince, Michael Jackson e Nick Cave). Nascido e crescido na região portuária de Bristol, na Inglaterra, ele deixou para trás a estreita criação familiar, baseada na religião protestante (seus pais queriam que o jovem Wayne fosse um missionário da Igreja de Jesus Cristo dos Santos Últimos Dias), para se mudar a Liverpool e se entregar de corpo e alma às guitarras e ao rock. Integrou temporariamente duas bandas de respeito na primeira metade dos anos 80s, o Dead or Alive e o Sisters of Mercy. Divergências e um turbulento racha com o vocalista Andrew Eldricht levaram-no a, enfim, criar um grupo onde pudesse cantar e se tornar estrela principal. Fez o Mission, ao qual se dedicou exaustivamente nos últimos 22 anos, emplacando mais de uma dezena de sucessos (Wasteland, Severina, Stay With Me, Butterfly On A Wheel, Tower Of Strenght, Deliverance, Into The Blue, Like a Child Again, Hands Across The Ocdean, Beyond The Pale, Never Again, Afterglow, Shades Of Green) e viajando o mundo.

Até que parou aqui. Por causa de mulher, claro. Na última passagem da banda pelo Brasil, há oito anos, conheceu uma brasileira, com quem viria a namorar e se casar. Até que decidiu vir de vez passou os quatro últimos anos morando em nosso país. Mas precisamente no interior paulista, na região de Piracicaba. E daqui mesmo, nestes tempos internáuticos, continua administrando sua carreira, baseada neste passado de respeito.

O Mission terminou oficialmente no ano passado, segundo Hussey, ?porque já cumpriu o seu papel?. Lançamentos do grupo ainda irão sair como os DVDs das quatro noites em que a banda celebrou, na Inglaterra, seu início de carreira, tocando na íntegra e na ordem das faixas os quatro primeiros álbuns (três de estúdio e uma coletânea de singles). Por enquanto vai esboçando um início de carreira solo ?e sem pretensão de lançar disco, pelo menos por enquanto?, ressalta pelo telefone, falando de sua casa. E solo mesmo, subindo sozinho ao palco ou tendo, no máximo, a companhia de um violoncelista. ?Cansei de ter banda?, comenta, com bom humor. ?Cheguei à conclusão de que quero fazer as coisas por minha própria conta.?

E ele resolveu matar as saudades do público brasileiro, fazendo uma pequena e discreta, no melhor dos sentidos turnê por várias cidades do País. Nesta quinta-feira, Hussey desembarca em Curitiba pela segunda vez, onde se apresenta no palco do Jokers. Muitos clássicos do Mission estarão no cardápio. Aliás, Hussey diz que não se furta a fazer a festa dos fãs e sempre adorará cantar as músicas que o tornou famoso, apesar de ter acabado com a banda recentemente. ?São as músicas que as pessoas gostam e elas vão me ver por causa delas. Então não me importo nem um pouco de dar a eles esta alegria.?

Contudo, há a garantia de novidades, como músicas inéditas, que deverão fazer parte do primeiro álbum quando ele sair (Wayne grava tudo sozinho, em seu estúdio caseiro). Ele fará ainda diversas releituras de canções e artistas preferidos seus. Wayne bem que tentou fazer mistério (?Não te conto o que eu vou tocar, só para fazer você ir ao show?, retrucou ao ser perguntado sobre isso, mantendo o bom humor em alta), mas aqui vai uma pequena antecipação: são enormes as chances do set list contar com contemporâneos como U2 (With or Without You), Cure (A Night Like You) e Blondie (Atomic).

Serviço

Show com Wayne Hussey. Jokers Pub Café: Rua São Francisco, 164. Os ingressos são limitados e podem ser adquiridos antecipadamente no local a preços promocionais: integral a R$ 60,00 e meio a R$ 30 (para estudantes, idosos e para todos que doarem um quilo de alimento não perecível, revertidos ao Instituto Pró-cidadania de Curitiba). Informações: 41 3323 2351. Site: www.jokers.com.br

Voltar ao topo