No TIM, PJ Harvey é puro mistério e discrição

Ela pediu duas garrafas de vinho tinto Penfolds Shiraz Merlot e duas garrafas de vinho branco Lindermans Chardonnay safra 2001. Vai comer peixe e não quer salada com tempero de mostarda ou outro qualquer, pois é alérgica. Não quer ar-condicionado no camarim, mas deve receber fãs depois do concerto.

Num mundo de personalidades superexpostas, hiperesquadrinhadas, desconstruídas, uma figura misteriosa sempre causa espanto – e curiosidade. A cantora inglesa Polly Jean Harvey, primeira grande diva indie do rock, é puro mistério a desafiar a platéia hoje à noite no Tim Festival, numa jornada que terá ainda o som inclassificável dos escoceses do Primal Scream. Será no Tim Stage, às 21h30.

Não que essa aura que hoje cerca PJ Harvey não tenha equivalente histórico entre as figuras femininas do rock. São vários exemplos. Nos anos 60, houve a cantora alemã Nico (codinome de Christa Päfgen), do Velvet Underground, a quem Polly Jean deve um tanto de sua performance. E Patti Smith, musa dark do underground; e Marianne Faithfull, frágil figura esticando-se no meio de um cabo-de-guerra de roqueiros misóginos. Ou Joni Mitchell, guerreira jazzy. Há também divas recentes, como Beth Gibbons, do Portishead, e a islandesa Björk.

Em 2001, Polly Jean bateu Madonna numa enquete da revista Q, que tentava definir qual é a maior artista da música pop de todos os tempos – certo que seus conterrâneos tiveram um peso eleitoral maior. A diferença entre ela e Madonna, no entanto, é abissal – Polly Jean nunca procurou chocar nem causar ondas comportamentais. Sua intenção maior é justamente procurar emoções fundas, defini-las em uma conjunção perfeita entre a lírica, a atuação e a forma como se relaciona com o show business.

Voltar ao topo