No meio do caminho havia um livro

No banco de praça, no parque, no telefone público, na empresa ou até mesmo dentro de uma geladeira desativada em uma panificadora, os livros parecem ter tomado vida própria e resolvido dar uma volta pela cidade para ir ao encontro dos leitores. Se alguém ficou com essa impressão ao cruzar com um belo exemplar da literatura universal no meio de suas andanças por Curitiba, ao abri-lo pôde constatar que eles estavam pelo caminho de propósito. A ideia da ação é democratizar o acesso às obras ou, ainda, iniciar novas pessoas ao hábito da leitura a partir do acaso premeditado pelos entusiastas dessa prática. “Acredito que o brasileiro gosta de ler. Todas as nacionalidades gostam”, defende o editor de mídias sociais Alessandro Martins, idealizador de uma pequena biblioteca criada em 2008, e instalada em uma geladeira desativada na panificadora Pote de Mel.

Ciciro Back
Biblioteca colaborativa na panificadora Pote de Mel, em Curitiba, que foi montada em uma geladeira antiga.

O local para o qual Martins decidiu doar mais de cem livros do acervo iniciado pelo pai dele, tem muito significado para o editor. Foi na panificadora que ele alavancou o hábito de ler, pois passava por lá todas as manhãs, depois de levar a namorada ao ponto de ônibus e, certa vez, viu um em um blog a história de uma biblioteca japonesa do mesmo gênero. “O post dizia que uma iniciativa semelhante não daria certo no Brasil, aquilo mexeu com meus brios”, recorda. “Depois, com a morte de meu pai, decidi que deveria fazer alguma coisa com alguns de seus livros”, acrescenta. A balconista da Pote de Mel, Roseli Dunaiski, qua já gostava de ler se tornou uma das usuárias mais assíduas da geladeira de livros. “Leio um livro por semana, em média, sempre gostei de ter essa companhia, pois aprendemos muito com cada livro”, recomenda Roseli. “Tem dias que saio carregada, pois levo livros para mim e para meus parentes que também gostam de ler”. A leitora assídua da panificadora é a prova viva da teoria do idealizador do projeto. “O pouco acesso aos livros é culpa dos próprios amantes da leitura que, normalmente, são egoístas e ciumentos quanto a seus livros e não sabem dividi-los, enclausurando-os para sempre em prateleiras, como se fossem troféus”, alerta Martins.

Na contramão disso, desde 2004, a Livrarias Curitiba fomenta o compartilhamento de livros e vínculos por meio do programa Passe adiante. Duas vezes por ano, a livraria distribui, pelas cidades em que atua, um total de mil exemplares em locais públicos como bares, bancos de praças, etc. “Em Curitiba, procuramos deixar as obras pelos locais por onde há uma efervescência cultural como a região entre o Teatro Guaíra e o Passeio Público”, indica o diretor comercial do grupo de Livrarias Curitiba, Marcos Pedri. “Isso faz as obras circularem como se fosse uma corrente. Os leitores, por sua vez, passam a estreitar vínculos de interesse, principalmente, nas redes sociais”, afirma. Para não quebrar esse círculo vicioso, cada um que encontra o livro deve seguir a máxima da iniciativa “encontre o livro, leia e passe adiante”.

Vale salientar que o princípio de passar adiante carece de consciência por parte dos leitores. Na Biblioteca Colaborativa desenvolvida pelo Shopping Omar, frequentemente, os livros emprestados não voltam. Assim como as iniciativas anteriores, as pessoas que utilizam o espaço podem pegar o livro e levar para casa, mas são poucas as que devolvem para que outros também possam se deleitar com a mesma história.

Intervalos produtivos

Na Impress, empresa que desenvolve papéis decorativos para o revestimento de móveis, o espaço de leitura veio por conta da criativida,de dos funcionários. “Esses compensados são embalagens de cilindros que usamos no processo de fabricação. Notamos que eles poderiam servir de mobiliário para um espaço de leitura e lazer para os intervalos e foi isso que fizemos”, conta a coordenadora de Recursos Humanos, Ana Paula Santa Helena.

Para compor o acervo, a empresa fez uma campanha interna para os funcionários doarem livros e se cadastrou no programa da Biblioteca Pública do Paraná, o Caixa estante. Com ele, a cada quatro meses, cem livros são disponibilizados a espaços de fomento da leitura. “Dá até para escolher as obras”, explica Ana. Neste mês, o espaço completa um ano de grande receptividade entre os 150 colaboradores. “Além do Caixa estante, os próprios funcionários estão colaborando para a renovação do acervo que tem por volta de 200 exemplares”.

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