Nelson Motta em entrevista

O jornalista, compositor e produtor musical Nelson Motta esteve esta semana em Curitiba e falou sobre o livro Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, lançado recentemente. Conta que a obra pode ser encarada como uma espécie de vingança do músico, que morreu em 1998, contra uma sociedade formada por artistas que se vestem de atitudes politicamente corretas, mas na verdade não deixam de ser hipócritas. Ele também fez uma análise da produção musical brasileira atual e contou que está adorando que a indústria milionária de discos está vivendo um momento crítico.

Nelson diz que pretendia lançar o livro antes, mas a Justiça demorou para determinar quem seria o herdeiro de Tim Maia para assinar o contrato. Apesar de ter passado quase 10 anos depois da morte do cantor, ele achou que o tempo de espera foi providencial. Neste período escreveu outros livros e ganhou experiência. Além disto, ressaltou que o vasto material que existe sobre o cantor na web, como os vídeos, ajudaram a criar uma obra mais completa.

Motta disse também que o livro parece uma narrativa ficcional, ficando longe de uma biografia acadêmica. ?Queria que fosse lido como um romance, com swing, que envolvesse o leitor. As pessoas sofrem quando ele morre, mas também morrem de rir com ele?, comentou.

Nelson conta que a amizade com Tim começou em 1969, quando produziu para o disco de Elis Regina o dueto que apresentou ao mundo o vozeirão do cantor. Como produtor musical e amigo, Nelson acompanhou essa jornada até os últimos dias da vida do cantor. O fato de ser amigo de Tim Maia não fez com que aliviasse a barra do cantor. Disse que não escondeu nada e que Tim tinha mesmo um lado marginal, bandido, mesquinho, ao mesmo tempo em que era generoso, talentoso e falava tudo o que pensava. Também não havia outra forma de falar da vida do cantor. ?Se o apresentasse como politicamente correto, o Tim ia infernizar a minha vida. Já pensou um fantasma andando atrás de mim?, explica.

Para ele, o livro também serve como uma espécie de vingança. Ele considera os artistas atuais politicamente corretos demais. ?Os valores hoje são muito caretas e hipócritas?, diz. Esta mesma sociedade nivela em programas, festas e revista ex-BBBs e cantores renomados.

Motta fez ainda uma avaliação positiva sobre o cenário musical atual. Disse que a tecnologia permite a qualquer pessoa gravar uma música e a internet ajuda na distribuição. ?Tem muita coisa boa nova surgindo. Os músicos têm melhorado muito?, falou.

Ele comentou ainda com satisfação que a indústria de discos está vivendo seu pior momento. Hoje é possível comprar músicas pela internet e isto tem tirado o sono de muita gente. Em outros países isto já é realidade. No entanto, isto ainda deve demorar um pouco para virar hábito no País, ressaltando a mania que os brasileiros têm de não quererem pagar pelo que consomem. ?Acho absurdo, principalmente gente que pode pagar ficar querendo entrar de graça?, fala. 

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