Nas ondas de Dorival Caymmi

Os mares de Dorival Caymmi são bem navegados no universo da música brasileira, pois que deles saem pérolas preciosas. O último mergulho (e indo bem às profundezas) é o de Olívia Hime, cuja pesca resulta no CD Mar de Algodão, em lançamento pela Biscoito Fino, numa idealização da própria cantora carioca.

Mar de Algodão – As Marinhas de Caymmi é o oitavo disco de Olívia Hime, e lança um olhar inovador sobre a obra “do mar” do baiano mais zen do Brasil. Ela dividiu o CD em três suítes – manhã, tarde e noite – nas quais o tratamento orquestral se incumbe de criar as cores e os climas dos diversos mares de Caymmi.

Aos arranjadores foi sugerido um tratamento de unidade para cada movimento, a partir de um roteiro lírico e musical idealizado por Olívia, no qual o canto fica a serviço do conceito geral do disco. Navegar pela obra do mestre baiano é tarefa a que já se dedicaram alguns dos maiores nomes da música brasileira de hoje e de sempre: Carmem Miranda, João Gilberto, Tom, Gal e Caetano são somente alguns dentre os mais famosos.

Para a produção do disco Olívia convidou o músico Rodolfo Stroeter e arranjadores diferentes para cada um dos blocos. O Mar da Manhã, primeira parte desta suíte, traz arranjo de Paulo Aragão e os violões cristalinos do Quarteto Maogani. Olívia enfileira preciosidades como Pescaria (Canoeiro), Milagre e Quem Vem Pra Beira do Mar. A segunda parte recebe o reforço de uma orquestra de sopros com arranjos de Nailor Proveta. O final da manhã destaca, ainda, a participação especial de Sérgio Santos em Morena do Mar.

O Mar da Tarde, em plenitude de sabores e cheiros, surge com arranjos de Wagner Tiso e sua profusão de cordas e sopros, com direito à gaita esplêndida de Maurício Einhorn. A riqueza do crepúsculo desfila com desenvoltura por Saudade de Itapoã, O Bem do Mar, Cantiga da Noiva e O Mar, trazendo de volta o mineiro Sérgio Santos.

O ar solene e misterioso do Mar da Noite aparece a seguir, com arranjo de Francis Hime, em peças antológicas como Noite de Temporal, O Vento, A Lenda do Abaeté (esta com a voz rascante e poderosa de Dorival Caymmi cantando junto aos atabaques), e Temporal. Além do piano de Francis, são cellos, violinos, trompas e oboés tecendo uma atmosfera onde as distinções entre música erudita e popular perdem o sentido. Nesse mesmo espaço noturno, Olívia percorre ainda É Doce Morrer no Mar, Adeus da Esposa e Sargaço Mar. A volta de Quem Vem Pra Beira do Mar e do Quarteto Maogani no fim da noite, e do CD, dá idéia da nova manhã que sempre chega, de continuidade e da tranqüila sabedoria zen que parece permear toda a obra de Caymmi, não por acaso batizado de Buda Nagô.

(Detalhe: o design do álbum, com direção de arte de Pinky Wainer, é merecedor de prêmio).

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