Na passarela do samba

Aline Aniceto tinha sete anos quando foram ao ar pela primeira vez as vinhetas de uma tal ?Mulata Globeleza?. Na ocasião, a menina não teve dúvidas ao afirmar: ?Nossa, eu queria fazer alguma coisa legal assim um dia?. Hoje, aos 19 anos, Aline pode se orgulhar de ser a nova ?Mulata Globeleza?. A jovem ocupa este ano o posto que desde 1993 pertenceu a Valéria Valenssa e que, no ano passado, coube à niteroiense Giane Carvalho. Escolhida em uma bateria de testes com outras 50 postulantes ao ?cargo?, a mulata, moradora do Andaraí, bairro da zona norte do Rio, mantém os pés no chão e ainda parece pouco à vontade na condição de celebridade. ?É como aquele sonho bem distante, que você acha que nunca vai realizar?, entrega.

No caso de Aline, o sonho bateu à sua porta quase por acaso. Criada na comunidade do Andaraí, nas proximidades da quadra da Acadêmicos do Salgueiro, ela sempre esteve envolvida com os ensaios da escola. Dos desfiles pela escola-mirim Aprendizes do Salgueiro aos convites para ?sair? pelas grandes agremiações do Carnaval carioca foi um pulo. Ainda adolescente, na comunidade, ela passou a integrar o grupo Dança e Paz. Foi seu professor no grupo, conhecido como Carlinhos Coreógrafo, quem a indicou para os testes. E, mesmo se dizendo apaixonada pelo Carnaval, ela não disfarça que é movida pela dança. ?Minha vida sempre foi dançar. Desde os sete anos eu faço aulas, especialmente de balé clássico, que é a minha paixão?, admite.

 Mais do que novas e boas perspectivas para o futuro, a escolha para ser a ?Mulata Globeleza? trouxe mudanças para a rotina de Aline. Tanto no grupo de dança quanto nas aulas da faculdade de Enfermagem, a presença da jovem já não passa despercebida. Mesmo nos corredores da Globo, é comum os colegas, alguns deles famosos, cumprimentarem a nova ?Globeleza? ou mesmo arriscarem um ?bem-vinda?. A notoriedade recém-adquirida, contudo, é uma experiência que Aline tem aproveitado sem se queixar. ?O reconhecimento é maior, por onde eu passo tenho de parar para falar com as pessoas. Eu estou achando muito bom?, diverte-se.

 Aos poucos, porém, a mais nova ?personagem? do Carnaval carioca começa a perceber que a vida de artista tem as suas dificuldades. Depois de aprovada nos testes de fotogenia, de vídeo e de ?samba no pé?, Aline teve de se preparar para a produção das vinhetas carnavalescas. Durante dez dias ela teve de fazer provas com a roupa usada nas vinhetas, já que este ano a pintura no corpo da ?Globeleza? foi substituída por uma fantasia. No dia das gravações, foram cerca de nove horas de trabalho, que incluiu maquiagem, cabeleireiro e figurino. ?Nós gravamos tudo num só dia, foi bastante trabalhoso, mas o resultado ficou bem legal?, avalia.

 Se por um lado usufrui da nova condição de ?famosa?, por outro, Aline dá prosseguimento a seus projetos pessoais. Suas únicas certezas são a vontade de concluir a faculdade, iniciada este ano, e o amor pela dança, que ela nem pensa em abandonar. ?São duas paixões muito diferentes, mas eu pretendo conciliar enquanto possível?, projeta. O posto de ?Globeleza?, por sua vez, é algo que Aline garante não saber se será seu no próximo ano. O que ela sabe é que, se for convidada a permanecer em 2007 como o símbolo do Carnaval da Globo, não vê motivos para hesitar. ?Não tem nada certo. Mas se puder eu continuo, é uma oportunidade maravilhosa?, insinua-se.

 Melhor do que continuar a encarnar a ?Mulata Globeleza?, só mesmo se surgir uma proposta ainda mais tentadora. Como um convite para um trabalho no setor de teledramaturgia da emissora. Mesmo sem experiência como atriz, Aline não esconde seu desejo de estudar teatro. E, uma vez que teve a chance de entrar para a Globo, ela não vê porquê não sonhar com novos vôos. ?Depende do convite, do momento, de como tudo acontece. Se for uma proposta legal, não vejo nenhum problema?, avisa.

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