Murilo Benício constrói vilão inspirado em Al Pacino

Dodi (Murilo Benício), da novela "A Favorita", está adorando fazer o vilão da novela global. Desde as primeiras cenas, o personagem mostra a que veio e vive de segredinho com maus elementos, recebendo malas e malas de dólares com a maior naturalidade. Caricato demais? Essa é a intenção.

"Eu nunca fiz um trabalho tão óbvio, um personagem tão óbvio. Está na cara que tem alguma coisa errada, mas ainda não sei o que é", diz Murilo Benício. "É um cara que se deu bem na vida porque é malandro, esperto."

O vilão da vez no horário nobre está envolvido na trama principal. Talvez mais diretamente do que demonstra. No passado, foi funcionário e amigo de Marcelo (Deco Mansilha), herdeiro de uma empresa de papel e celulose. Eles então conheceram Flora e Donatela, que ganhavam a vida como a dupla sertaneja Faísca e Espoleta, e dois casais se formaram: Marcelo e Donatela e Dodi e Flora.

O casamento do amigo foi feliz por pouco tempo. O milionário viu o único filho ser seqüestrado aos seis meses de vida e ainda desconfiava da fidelidade da ex-cantora. O relacionamento com a mulher também fracassou por conta das personalidades diferentes. O dramalhão aumentou quando Marcelo e Flora engataram um romance e ela engravidou.

Dois anos depois, Marcelo foi assassinado. O crime levou Flora a passar 18 anos na cadeia jurando inocência. Após o crime, Dodi se casou com Donatela, que pode ser a verdadeira responsável pela morte do empresário com co-autoria de… Dodi, claro.

Por enquanto, o intérprete prefere não opinar sobre a responsabilidade no mistério. "Começo a novela com a única certeza de que as coisas vão mudar, sempre mudam. Essa é a minha 15ª novela, aprendi a não chegar com tudo pronto."

O enredo policial e o cinema serviram de inspiração para a construção do personagem. Ao ter contato com a sinopse, Benício se lembrou do jeitão e do figurino de gosto duvidoso de Tony Montana (Al Pacino), do filme "Scarface" (1983). E quis ser o Pacino brasileiro. O diretor Ricardo Waddington teve a mesma idéia e o resultado é o que está no ar.

"Fui à casa do João (Emanuel Carneiro, autor do folhetim), a gente conversou horas e ele me falou que o Dodi era um cara bronco. Lembrei do Al Pacino em Scarface. O figurino foi uma vitória, a gente decidiu logo no início. Foi metade do caminho para a composição. Queria uma coisa ousada, a coisa do botão aberto, da estampa, quase over. Faço como se ele usasse o mesmo terno há 11 anos e ainda não se sentisse à vontade nele."

O ator de 35 anos também ?envelheceu? graças ao vigarista. Ele foi obrigado a ?tingir? alguns fios do cabelo de branco para ficar grisalho, já que teria de ser da mesma geração de Cláudia Raia e Patrícia Pillar, atrizes com idade na casa dos 40 e poucos anos, na ficção. "Homem grisalho é charmoso. Mas achei o (visual) interessante porque não é meu, é do personagem, não tenho um fio de cabelo branco. Se tivesse que ficar assim sempre, não sei se ia gostar."

Os excessos na caracterização e na entonação da voz (que ficou esquisita) do personagem podem até desagradar ao telespectador de, digamos, bom gosto, mas Benício defende. "Gosto de mudar, assim abro campo para o erro. Experimentar o tempo todo é ser artista."

Criador e caricatura, porém, não foram feitos um para o outro. O ator Fábio Assunção recebeu o primeiro convite para o tipo, mas pediu afastamento da trama. Quando soube da vaga, o intérprete se ofereceu para o trabalho. Ele queria um desafio dramático após uma série de cômicos nas novelas, como o Artur de Pé na Jaca (2006) e o Danilo de Chocolate com Pimenta (2003).

"Era a segunda ou terceira opção em todas as novelas que fiz na Globo. Não me incomodo, minha vaidade não chega a isso. Pedi o personagem. O João (Emanuel Carneiro) tinha me chamado para outro papel (cômico), mas não quis. (Os autores e diretores) estavam me achando muito engraçado. Daqui a pouco, iam me chamar para fazer o Zacarias com o Didi."

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