Muitas vezes, atores não gostam de assistir a trabalhos antigos

Vaidosos como poucos, atores de tevê adoram "prestigiar" os próprios trabalhos. Até mesmo os que estão em reprise. Nessas ocasiões, eles têm a oportunidade de matar saudade de colegas que já se foram, de conferir o quanto cresceram profissionalmente e de receber cachê por conta do pagamento dos direitos de imagem. Mas, às vezes, em vez de orgulho e satisfação, sentem mesmo vergonha e constrangimento ao se depararem com antigas produções. Tais sentimentos parecem predominar entre aqueles que participaram da novela Xica da Silva, da extinta Manchete, e dos "teleteatros", do SBT.

Desde que Sílvio Santos decidiu reprisar Xica da Silva, muita gente do elenco perdeu o sono. A apresentadora Adriane Galisteu foi uma delas. Hoje à frente do Charme, lembra que, a princípio, foi convidada por Walter Avancini para participar apenas de quatro capítulos. Para sua tristeza, porém, ficou nove meses no ar. Na trama de Walcyr Carrasco, hoje na Globo, a personagem sofreu abuso sexual e ficou vagando, nua e apalermada, pela região. "Sofri nas mãos do Avancini. Ele tinha um jeito tirânico de dirigir. Vivia pedindo a ele para matar a minha personagem", lamenta.

Motivado pelo sucesso de Xica,  que já alcançou índices de 17 pontos no ibope, o SBT desengavetou também os famigerados "teleteatros", gravados em 1998. Sem fazer novelas desde Os Ossos do Barão, de 97, os atores da emissora não tiveram alternativa senão gravar os arremedos de "casos especiais" a partir de textos da mexicana Marisa Garrido. Na época, alguns deles, como Joana Fomm e Jussara Freire, recorreram à Justiça. Em vão. "Fazíamos milagre para o negócio sair legal. Mas eles não aceitavam nossa ajuda. É frustrante não poder opinar no próprio trabalho", queixa-se Joana.

 O martírio da atriz só não foi pior porque ela teve a "sorte" de quebrar o pé e ser hospitalizada. "Bendito acidente aquele!", ironiza. Jussara Freire não teve a mesma "sorte". Na época, foi intimada por um oficial de justiça a comparecer às gravações em 24 horas. Egressa de outras novelas da casa, como Éramos Seis, Sangue do Meu Sangue e Os Ossos do Barão, estranhou o tom ditatorial adotado pelo SBT. "Vestimos a camisa da emissora e eles a rasgaram. Só espero que aquela tenha sido a primeira e última humilhação que sofri na minha vida artística", desabafa.

Pulando a janela

Recentemente reprisada pela emissora, Fascinação, também escrita por Walcyr Carrasco, marcou a estréia de Regiane Alves na tevê. Hoje na Globo, a atriz cai na risada ao lembrar que teve vontade de se jogar da janela ao rever o primeiro capítulo. "Você acredita que tem coisa lá que eu não me lembro de ter feito?", despista. Ela não esquece, porém, do dia em que quebrou o pé em cena. Mesmo assim, chorando de dor, não interrompeu a gravação. "Saí do estúdio direto para o hospital!", ri.

 Mas não são todos os que renegam o próprio passado. Alguns deles, como André de Biasi e Kadu Moliterno, se orgulham e muito do que fizeram. Recentemente, os dois puderam rever alguns episódios da série Armação Ilimitada, exibida pela Globo entre 1985 e 88, no Multishow. Na série, Lula e Juba eram dois amigos que mantinham uma firma de prestação de serviços em sociedade. Os dois dividiam tudo em comum. Até a namorada Zelda Scott, interpretada por Andréa Beltrão. "Em plenos anos 80s, mostrar dois caras casados com a mesma mulher em um programa no horário nobre era algo bem ousado e inovador", orgulha-se André. 

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