Mostra Flavio de Carvalho esboça nova política de museus

A mostra Flavio de Carvalho: A Experiência como Obra, aberta nesta quinta-feira, 06, na Oca, no Parque do Ibirapuera, é mais que uma exposição dedicada ao artista múltiplo morto em 1973. É um experimento de política museológica para os acervos públicos do município de São Paulo, nas palavras do diretor do Museu da Cidade de São Paulo, Afonso Luz.

A Oca – ou Pavilhão Governador Lucas Nogueira -, pertencente à Secretaria Municipal de Cultura, vai abrigar mostras realizadas pelo Museu da Cidade de São Paulo, rede formada por 13 edifícios e espaços históricos que detém, por assim dizer, uma coleção tão ampla que apenas no segmento de fotografia possui mais de 80 mil itens.

O plano de Afonso Luz é promover uma integração maior dos acervos, projeto oposto ao realizado na gestão anterior da Secretaria Municipal de Cultura. “A cidade perde com a fragmentação não só na gestão das instituições, mas também do ponto de vista da história da arte”, diz Luz, no cargo desde abril. “Estamos trabalhando pela ideia de um patrimônio comum”.

No caso de Flavio de Carvalho: A Experiência como Obra, a exposição foi criada com mais de 120 obras da Prefeitura de São Paulo presentes nos acervos da Biblioteca Mário de Andrade, Theatro Municipal, Centro Cultural São Paulo, Departamento de Patrimônio Histórico e Arquivo Histórico de São Paulo. “As instituições podem tomar decisões junto”, define o diretor do Museu da Cidade e curador-geral da mostra.

A exibição estabelece relações entre as criações do pintor, desenhista, arquiteto, cenógrafo, decorador, escritor, teatrólogo e engenheiro. Entre suas performances, a Experiência n.º 2, de 1931 (a de andar no sentido contrário ao de uma procissão de Corpus Christi, com chapéu à cabeça), é “o coração” da mostra, reconstituída em “imagens sonoras” projetadas em uma arena, trabalho dirigido por Camila Mota, do Teatro Oficina. A mostra apresenta também plantas arquitetônicas, máscaras e 25 figurinos criados por Flavio de Carvalho – entre eles, o New Look (1956) e peças para o bailado A Cangaceira, de Camargo Guarnieri. Algumas peças são aquisições recentes da Prefeitura.

PLANOS

Sobre projetos futuros de mostras realizadas pelo Museu da Cidade de São Paulo, Afonso Luz conta que há planos de a Oca abrigar exposições de arte chinesa, arqueologia mexicana e arquitetura internacional feitas em parcerias com instituições. Ele conta que o prédio também poderá ter parte de seu espaço a ser alugado para outras exposições, “mas não queremos mais eventos e festas”. Já sobre o problema de fragmentação de acervos, o diretor do Museu da Cidade cita como mais problemático o da Coleção de Arte da Cidade.

Segundo Afonso Luz, já estão sendo providenciados os marcos jurídicos para que a coleção seja incorporada ao Museu da Cidade de São Paulo. Então Pinacoteca Municipal, criada originalmente com peças do crítico Sergio Milliet -, a Coleção de Arte da Cidade, com cerca de 2,8 mil obras e abrigada no Centro Cultural São Paulo, teria seu segmento gráfico a ser instalado no Gabinete de Desenho.

Essa instituição cultural, que foi inaugurada em dezembro de 2012 na Chácara Lane (órgão do Museu da Cidade), na Rua da Consolação, chegou ao fim. É uma política do século 19, declara o diretor do Museu da Cidade, a de dividir acervos pela técnica das obras. “O gabinete nunca existiu, nunca teve orçamento, além de ser um espaço com problema de segurança para abrigar as obras”, diz Luz.

Outros casos preocupantes no espectro do Museu da Cidade de São Paulo são os da Casa Modernista (projetada em 1927 pelo arquiteto Gregori Warchavchik) e do Pavilhão das Culturas Brasileiras no Parque do Ibirapuera, segundo o diretor do órgão. Esta última instituição, anunciada em 2010 com uma exposição inaugural no local, ainda é considerada um espaço em obras. “Está sendo restaurado, havia risco de incêndio no prédio, e por isso tive de fechar suas portas por orientação técnica”, afirma Afonso Luz.

Será preservado o foco antropológico original do Pavilhão das Culturas Brasileiras, dedicado à exibição de peças de design popular e de criação indígena, por exemplo, e a ser abrigo para peças dos acervos do extinto Museu de Folclore Rossini Tavares de Lima e o da Missão de Pesquisas Folclóricas. Cogitou-se de o espaço ser oferecido para o governo português, mas a ideia foi descartada. Já foram gastos R$ 8 milhões no Pavilhão das Culturas Brasileiras na gestão anterior da Secretaria Municipal de Cultura. Há previsão de que sejam necessários mais outros R$ 30 milhões para o término da reforma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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