Mostra em SP reúne clássicos da comédia italiana

Pode ser que a comoção causada pela morte de Mario Monicelli tenha a ver com a overdose de filmes do diretor na mostra “Commedia all’Italiana”, na Caixa Cultural, em São Paulo. Não que ele não mereça. Monicelli foi um dos grandes no gênero que rima riso e lágrimas, porque a comédia italiana é sempre uma tragicomédia. Ao se suicidar, ele armou sua derradeira mise-en-scène e saiu de cena com estilo, provocativo e feroz.

Mas a verdade é que a Mario pode-se preferir Dino – o grande Risi, uma espécie de Michelangelo Antonioni do humor, que refletiu, como ninguém, em chave humorística, sobre a angústia existencial e a alienação dos sentimentos, temas essenciais da famosa trilogia da solidão e da incomunicabilidade que revolucionou a narração nos anos 1960.

Monicelli, Risi – e os outros. Em 1962, no ano em que Anselmo Duarte recebeu a Palma de Ouro com “O Pagador de Promessas”, havia jurados que, indiferentes aos autores que concorriam com ele – o Robert Bresson de “O Julgamento de Joana d’Arc”, o Luís Buñuel de “O Anjo Exterminador”, o Michael Cacoyannis de “Electra”, etc. -, queriam outorgar a Palma ao corrosivo Pietro Germi de “Divórcio à Italiana”. Marcello Mastroianni, num de seus melhores papeis, é Fefé, o aristocrata siciliano que, querendo se livrar da mulher, a transforma em adúltera, para poder abatê-la sem dó segundo o código de costumes vigente na ilha. O desfecho é surpreendente e consolidou, de cara, uma nova estrela, Steffania Sandrelli, a quem Germi ofereceu o papel principal de sua comédia seguinte, “Seduzida e Abandonada”, que também integra a programação.

São sete filmes de Monicelli, os longas “Os Eternos Desconhecidos”, “A Grande Guerra”, “O Incrível Exército de Brancaleone”, “Brancaleone nas Cruzadas” e “A Moça com a Pistola”; o média “Boccaccio 70”, cortado da versão internacional, quando o filme estreou nos cinemas; e o curta de “Senhoras e Senhores, Boa Noite”. Monicelli é, em números, o mais representado dos autores de comédias italianas, mas você também encontra Dino Risi (“Uma Vida Difícil”, “Aquele Que Sabe Viver”, “Os Monstros” e o episódio de “As Bonecas”), Germi (além dos citados, “Confusões à Italiana”, vencedor da Palma de Ouro); Ettore Scola (“Falam-me de Mulheres” e “Nós Que nos Amávamos Tanto”); Lina Wertmüller (“Mimi Metalúrgico”); Luigi Comencini (“Pão, Amor e Fantasia”). Este foi chamado, em 1953, de traidor do neorrealismo, por seu realismo róseo. Não traiu mais do que Vittorio de Sica com “Ontem, Hoje e Amanhã” e o média de “Boccaccio” – difícil é dizer em qual Sophia Loren é mais exuberante.

Visconti não considerava “O Trabalho”, seu episódio de “Boccaccio”, em que Romy Schneider cobra para fazer sexo com o marido, uma comédia. Fellini, sim, e Anita Ekberg, com aqueles seios, evolui na tela ao som de Bevete Piú Latte em “As Tentações do Sr. Antônio”. Isso nos permite falar de atores. A comédia italiana deve muito a Mastroianni, Vittorio Gassman, Nino Manfredi, Ugo Tognazzi, Alberto Sordi. A mostra abriga o lançamento de “Commedia all’Italiana”, coleção de ensaios organizada por Kelly Santos e Raphael Fonseca, primeiro livro sobre o assunto no País. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Commedia all’Italiana – Caixa Cultural (Praça da Sé, 111). Tel. (011) 3321-4400. Grátis. Até 01/05. Programação completa no site www.commediaallitaliana.com.br

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