Monjardim faz 20 anos de TV

Jayme Monjardim comemora 20 anos de televisão com a minissérie “A Casa das Sete Mulheres”. A primeira novela comandada pelo diretor foi “Braço de Ferro”, em 1983, na Band. Desde então, dirigiu 13 novelas e três minisséries. Entre elas, a inovadora “Pantanal”, na extinta Manchete, e os sucessos “Terra Nostra” e “O Clone”.

Conhecido por explorar belas tomadas da natureza em suas produções, Jayme é do tipo de diretor que não acredita em limite para efeitos de computação gráfica. Ele também se autodenomina um contador de histórias acima de tudo. “O que procuro é conceituar minhas produções e imprimir um estilo próprio e coerente. Fazer belas imagens de natureza é uma conseqüência”, pondera o diretor. Após a minissérie “A Casa das Sete Mulheres”, Jayme vai estar envolvido com um projeto que será sua estréia como diretor de cinema. É o filme “Olga”, baseado no livro de Fernando Moraes. A produção vai contar a história de Olga Benário, esposa judia do líder comunista Luís Carlos Prestes, que foi extraditada pelo governo de Getúlio Vargas para os campos de concentração nazistas. A idéia é que a produção estréie nos cinemas e depois seja adaptada para uma microssérie de quatro capítulos. “Também quero estar presente no próximo trabalho de Glória Perez na televisão”, avisa Jayme.

P

– Você sempre explora a natureza em suas produções. Quando o estilo de um diretor vira falta de ousadia?

R

– A minha marca não é através de natureza, mas do conceito dos meus trabalhos. É mais difícil conceituar do que dirigir. Fazer take bonito de natureza é fácil, mas conceituar é o problema. Vou morrer levando natureza, cachoeiras e imagens bonitas para as minhas produções. É o meu jeito de fazer. Mas é realmente difícil a televisão insistir em diretores autorais.

É uma luta pessoal de cada um de nós para tentar criar um carimbo. O pai de todos é o Walter Avancini. Depois veio Jorginho Fernando, Guel Arraes, Luiz Fernando… Confesso que quando tenho a chance, mostro a natureza bem mostrada. Procuro fazer daquele lugar o mais bonito do mundo. Está dentro de mim procurar locações bonitas. Mas isso está dentro de qualquer diretor.

P

– Qual a dificuldade em dirigir uma minissérie como A Casa das Sete Mulheres?

R

-As cenas de batalha e a dos navios, sem dúvida. Construímos duas proas, rampas de água, uma piscina cenográfica e toda estrutura, como nos melhores estúdios do mundo. Mas as batalhas são uma dor-de-cabeça. Fizemos parte em Uruguaiana e os planos fechados no Rio.

O importante é que o elenco está mais aprimorado nas cenas de batalha. Elas são mais difíceis nesta minissérie do que em “Aquarela do Brasil”, por exemplo, pois é preciso usar espada. Por isso, em A Casa dependo mais da agilidade do ator. Mas escolhi o elenco pensando nisso.

P

– Você tem um esquema de segurança do elenco nas cenas de cavalaria?

R

– Tenho um grupo de cavaleiros contratados para a minissérie. Então, em todas as cenas de batalhas envolvendo cavalos, o elenco sempre é cercado por dois cavaleiros fantásticos para segurarem os atores em caso de queda. Pois há esse risco. Tanto que aconteceu realmente. O Werner Schünemann quase caiu com um tropel de 60 cavalos atrás dele e seguraram ele no momento exato. Por isso, do lado de cada ator temos dois cavaleiros dublês que durante a cena só cuidam dele.

P

– Por que você eliminou o sotaque gaúcho da minissérie?

R

– Porque iria virar uma salada de sotaques. Na primeira leitura que as atrizes fizeram, por conta delas, desisti do sotaque na hora. O cinema americano conta histórias maravilhosamente bem sem utilizar sotaque. Lá, uma história se passa no Cairo ou na Índia e todos falam inglês. Também decidi alterar a geografia do Rio Grande do Sul. Juntei a região dos pampas e da serra gaúcha. Em “O Clone” também misturei Marrakesh com o deserto e fiz uma cidade fictícia. Criei um cenário do Rio Grande do Sul para melhor contar a história. Perguntam, por exemplo, por que não usamos a casa verdadeira do Bento Gonçalves. É porque a casa fica na beira de uma estrada, é feia e não tem magia. Não adianta optar pela realidade nua e crua se for para ficar feio, sem clima e sem magia. Mais importante é contar a história. Mas acho que foi uma decisão acertada, pois no Rio Grande do Sul a audiência é absurda, chega a dar 51 pontos de média e 79% de participação. Se não gostassem, não estariam vendo.

P

– Você é famoso por abrir as gravações e dar tratamento especial para a imprensa. É uma espécie de marketing?

R

– Não consigo imaginar nos tempos de hoje, em que a comunicação é a base de tudo, fechar as gravações para a imprensa. Não tem sentido, porque dependo da imprensa para fazer meu trabalho. Preciso que ela divulgue, que o programa seja falado. É complicado porque dependo de verbas, de que a produção dê audiência e que seja falada, mal ou bem. Então as minhas gravações sempre estão abertas, porque o interesse é mais meu do que da imprensa. O americano e o mundo inteiro fazem isso. E sei para quem posso falar ou não, mesmo que tenha 100 repórteres comigo. Há um código, até entre eu e os fotógrafos. Virou uma família, onde todos conhecem a índole e a moral de cada um. Então, não transformo minhas produções em um mistério. Para mim, é fundamental que a imprensa esteja desde o início envolvida no trabalho.

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