Pela primeira vez em sua história, o Museu Oscar Niemeyer vai ser palco de uma peça de teatro. A novidade é trazida pela montagem Pincéis e Facas, da empreendedora e atriz Karla Fragoso, que conta três histórias relacionadas ao quadro Unos Cuantos Piquetitos, pintado em 1935 por Frida Kahlo, quando a artista mexicana tinha 28 anos e já era casada há sete com o artista muralista Diego Rivera.
"Unos Cuantos Piquetitos" mostra um homem olhando para uma mulher nua na cama, com o corpo marcado por golpes de faca e com muito sangue. Segundo consta, Frida pintou o quadro a partir de uma notícia de jornal, que contava a história de um homem que matou sua mulher com uma faca de cozinha, proferindo uma infinidade de golpes. Quando questionado pela polícia sobre o crime, o homem afirmou que tinha dado apenas Unos Cuantos Piquetitos, o que quer dizer: Umas facadinhas bestas. Mesmo após ter matado a mulher que amava, o homem não se dera conta de sua condição de assassino.
O contexto cruel e sombrio, aliado à imagem do quadro de Frida, é a inspiração deste texto teatral que traz três universos e três interpretações diferentes do amor entre um homem e uma mulher. Com texto, direção e concepção de imagens de Paulo Biscaia Filho, Pincéis e Facas é uma montagem teatral sobre sexo, violência e morte no universo da pintora mexicana Frida Kahlo sem, no entanto, retratar a artista como personagem da peça, mas como referência e elemento que permite a costura das três histórias.
Ao contrário das peças anteriores do diretor, Pincéis e Facas não abusa da linguagem multimídia e audiovisual. Mas a ausência deste recurso não tira o caráter contemporâneo da peça, que apresenta as três histórias de forma simultânea. Com a alternância do tempo e com linguagem vertiginosa, Pincéis e Facas é um espetáculo que proporciona uma viagem completa pela mente dos personagens, em especial, pela alma feminina, com todos os pequenos golpes que sofre todos os dias. E os personagens são justamente os pontos altos da peça. Segundo Paulo Biscaia Filho, "o mais importante da
montagem é o trabalho desenvolvido pelos atores para a interpretação dos personagens".
No cenário de Guilherme Sant´ana, o público vai encontrar referências à vida e obra de Frida Kahlo, que traz um pouco do quadro Unos Cuantos Piquetitos, "numa perspectiva forçada, quebrada e até exagerada", conta o cenógrafo. Além disso, a referência ao México é forte, remetendo ao árido, ao clima quente e ao sujo, em contraste com a limpeza da volumetria e nas formas.
A sonoplastia de Chico Nogueira é a moldura do texto de Pincéis e Facas, marcando mais um capítulo da bem sucedida parceria profissional de Chico e Paulo Biscaia Filho. E, como não podia deixar de ser, utiliza toda a sonoridade característica do México, com os mariachis. "A música mexicana é alegre e, ao mesmo tempo, com uma melancolia profunda", diz Chico Nogueira. A sonoplastia proporciona uma viagem completa ao México e à mente dos personagens. A sonoridade contribui para o clima de introspecção, de intenções escondidas na psiquê de cada personagem e para o envolvimento do
público nesta trama que mostra as conseqüências de pequenos atos, causados pela ponta de um pincel ou de uma faca.
Serviço
"Pincéis e Facas"
Direção, texto e imagens de Paulo Biscaia Filho, com Karla Fragoso,
Marcilene Moraes, Fabiano Amorim, Sidy Correa, leandrodanielcolombo* e
Rafaella Marques.
Dias 1 de dezembro, às 20h30; e 2 de dezembro, às 17h e às 20h30, no Museu
Oscar Niemeyer.
De 7 a 17 de dezembro, de quinta a domingo, às 21h, no Espaço Teatro Regina
Vogue Shopping Estação.
Ingressos a R$15,00 e R$ 7,50 (estudantes e classe artística).
* a grafia do nome do ator é esta mesma, todas as letras minúsculas juntas