Momento histórico

Com seus gestos contidos, Tuca Andrada, num primeiro momento, pode parecer uma pessoa arredia, de poucas palavras. Mas bastam alguns minutos de bate-papo para que o ator, atualmente no ar como o Homero em Cidadão Brasileiro, da Record, desfaça logo a aparente sisudez. E o inicialmente retraído ator desanda a falar. Seja sobre o fato de estar num local histórico, a entrevista aconteceu na Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro, onde ficava a antiga sede do Senado Federal e hoje está a praça Mahatma Gandhi ou também sobre a carreira. Bem-humorado, Tuca confessa que não tem do que reclamar do atual momento profissional. Está adorando participar, pela primeira vez, de uma trama escrita pelo autor Lauro César Muniz e, ainda por cima, ter a oportunidade de interpretar um jornalista comunista que vive em plena década de 1950. "Juntou a fome com a vontade de comer. Como sempre gostei de História e, em se tratando de um personagem de época como o Homero, isso ajudou na hora de dar um ‘colorido’ extra", opina.

Com 13 novelas no currículo em 25 anos de carreira, Tuca está em seu terceiro trabalho de época – esteve também em Anos Rebeldes, da Globo, em 1992, como o Ubaldo, e em As Pupilas do Senhor Reitor, do SBT, em 1994, onde interpretou o personagem Pedro. O ator, contudo, garante que não tem predileção por trabalhar em produções contemporâneas ou nas que retratam períodos distantes no tempo. Mesmo assim, Tuca acredita que a oportunidade de participar de tramas ambientadas num "universo" que não presenciou serve para estimular e aguçar o instinto de qualquer ator. "Esse é, na verdade, o grande barato da nossa profissão. É bom ‘entrar no clima’ e perceber como eram os valores de antigamente", valoriza.

E é o resgate de valores em desuso que faz Tuca estar bastante satisfeito em dar vida ao Homero de Cidadão Brasileiro. Isso porque pode se desvencilhar do estigma de interpretar personagens de índole duvidosa, como o bandido Ladislau, de O Dono do Mundo, e dos inescrupulosos Zé Carlos, de Sabor da Paixão, e Kaíke, de Da Cor do Pecado. "Ao longo da carreira, tive um certo cuidado para que minha imagem não ficasse vinculada a um determinado tipo de personagem. O problema, porém, é que as pessoas me associam muito aos vilões, aos safados", resigna-se. Assim como o atrapalhado e boa-praça Nicolau, de As Filhas da Mãe, o ator destaca que o jornalista Homero é íntegro e dono de um bom caráter. "É um cara preocupado com as dificuldades pelas quais passa o povo daquela cidade. Está realmente interessado no bem-estar deles", avalia.

Em sua primeira novela na Record, Tuca conta que o "namoro" com a emissora não é recente. Ele lembra que foi convidado para fazer parte do elenco de Essas Mulheres, segunda produção da "casa" desde a retomada do núcleo de teledramaturgia, que começou com A Escrava Isaura. "Mas, na época, não chegamos a um acordo e acabei não participando", recorda. Contratado apenas para fazer Cidadão Brasileiro, o ator conta que prefere não manter vínculos maiores com as emissoras em que trabalha. Tanto que, das 11 novelas que fez na Globo, por exemplo, todos os contratos foram assinados por obra. O motivo, alega, é ter mais liberdade na hora de escolher os trabalhos e, até, recusar personagens que não lhe agradam. "É claro que isso gera uma certa insegurança, mas, ao mesmo tempo, não preciso ficar à disposição nem me submeter a fazer o que não desejo", pondera.

Destino traçado

José Ivaldo Gomes de Andrade Filho, que adotou o nome artístico Tuca Andrada, confessa que sempre pensou em ser ator. Tanto que desde pequeno, conta, gostava de brincar de interpretar e imitava os atores que via na tevê e no cinema. Os primeiros passos, por sinal, ele deu ainda no colégio, em Recife, e nunca mais parou. Fez diversos cursos de teatro e participou de vários espetáculos amadores. Até que chegou o dia em que percebeu que deveria abandonar a capital pernambucana e seguir para o Rio de Janeiro, uma vez que precisava ter contato com outras experiências teatrais. "Decidi procurar novos rumos, porque queria realmente seguir a profissão e me destacar. Não dava mais para ficar por lá", lembra.

No Rio, Tuca teve de se desdobrar para sobreviver. Não por acaso, paralelamente ele teve vários empregos, mas sempre conciliando os horários de trabalho com os palcos e os cursos paralelos de teatro e canto. Apesar das dificuldades e do tempo apertado, Tuca participou de vários espetáculos até conseguir definitivamente viver somente da carreira. Com mais de 30 peças no currículo, o ator se considera um felizardo e atualmente está rodando o país com o musical Orlando Silva – O Cantor das Multidões. A novidade, contudo, é que, além de atuar, Tuca também está "atacando", pela primeira vez, de produtor teatral. "Foi a maneira que encontrei para montar esse trabalho. Dá uma liberdade maior para o ator. Mas é um trabalho árduo e burocrático", reclama. 

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