Memória de Chico Xavier é preservada com fundação cultural

d141.jpgTrês anos após a morte do médium mais conhecido do Brasil, completados em 30 de junho, Chico Xavier permanece vivo na memória dos brasileiros. Cultuado em vida, o médium mineiro continua despertando o interesse de muita gente, inclusive, fora do círculo da fé espírita mesmo após a morte.

Prova disso são os fenômenos literários, As vidas de Chico Xavier e Por trás do véu de Ísis, do jornalista Marcel Souto Maior, que alcançaram a marca dos 220 mil exemplares vendidos. Marcel, 39 anos, tem longa estrada no jornalismo. É roteirista da TV Globo, onde estreou como editor do Fantástico. Passou pelas redações dos jornais Correio Braziliense, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. Apesar de ter se dedicado a dois livros sobre Chico Xavier, Marcel não é espírita e lançou um olhar jornalístico sobre a vida e obra do médium.

As vidas de Chico Xavier vai ganhar uma edição em espanhol pela editora Planeta com outro título: O homem que falava com os mortos. Os desdobramentos dos livros não se encerram por aí.

Nesta sexta-feira foi inaugurado em Pedro Leopoldo, cidade natal do médium, a Fundação Cultural Chico Xavier, responsável pela preservação de sua memória e com a proposta de implementar um roteiro turístico pelos principais pontos da cidade onde morou até 1959, quando se mudou para Uberaba.

Autor plural e líder humanitário

Em 92 anos de vida, Chico se tornou notório pela forma como transcrevia para o papel as mensagens do ?além?, sempre de olhos fechados, em velocidade impressionante. O fato é que nesse período o médium escreveu mais de 400 livros, vendeu mais de 25 milhões de exemplares e doou toda a renda dos direitos autorais a instituições beneficentes.

A autoria dos livros, crônicas, poemas, cartas sempre foi negada por Chico. ?Os livros não me pertencem. Eu não escrevi nada. Eles – os espíritos – escreveram?, repetia, para perplexidade dos céticos e admiração de quem acredita na ?vida depois da morte?. De concreto, só o fato de o médium ter recebido em vida 83 títulos de cidadania no Brasil e de cerca de dez milhões de brasileiros terem endossado a campanha ao Prêmio Nobel da Paz, assinando manifestos e cartas.

Chico conseguiu a proeza de afastar a desconfiança daqueles que temem a manipulação da fé, firmando sua imagem com a de um homem comprometido com o bem da humanidade e, portanto, acima das disputas da fé. Além do trabalho mediúnico, a comissão que organizou sua candidatura ao Nobel reuniu documentos, comprovando seu trabalho em assistência social, hospitais psiquiátricos, casas de saúde e na recuperação de presídios.

Não só, Chico tinha o poder de despertar o melhor das pessoas, promovendo mutirões e campanhas de doação. Sua mensagem se resumia à necessidade de se ajudar o próximo, o que pode ser encarado como um ensinamento cristão ou simplesmente uma visão humanista da vida.

Pingue-pongue com o jornalista Marcel Souto Maior

1) Você não é espírita. Por que, então, resolveu escrever uma biografia de Chico Xavier?

Por interesse jornalístico mesmo. Chico escreveu mais de 400 livros, vendeu mais de 20 milhões de exemplares e doou toda a renda dos direitos autorais a instituições beneficentes. ?Os livros não me pertencem. Eu não escrevi nada. Eles – os espíritos – escreveram?, repetiu Chico até morrer na cama estreita de sua casa simples em Uberaba. ?Graças a Deus aprendi a viver apenas com o necessário?, ele costumava dizer. As vidas de Chico Xavier é um livro jornalístico, em que reconstituo, com o máximo de isenção possível, a trajetória do menino pobre, mulato, filho de pais analfabetos, nascido no interior de Minas Gerais que, primeiro, se torna um escândalo nacional ao passar para o papel mensagens assinadas por mortos ilustres ou anônimos e que, com o tempo, depois de ser atacado, perseguido, insultado, investigado, processado, se transforma num ídolo popular, um mito. A vida de Chico é uma saga.

2) E Por trás do véu de Ísis? Por que você decidiu investigar a psicografia depois de lançar a biografia de Chico?

Por trás do véu de Ísis  é uma investigação jornalística sobre um dos temas mais controvertidos do universo espírita: a psicografia de ?mensagens particulares? (as cartas dos ?espíritos? para suas famílias). No livro acompanho o drama de uma mãe, Juraci Quirino, que perdeu os dois filhos e busca provas da sobrevivência deles em outra dimensão. Ao lado desta mãe percorro vários centros em Uberaba, São Paulo, Rio de Janeiro. É uma peregrinação dura, sofrida, pontuada pela descoberta de fraudes e por surpresas também. O livro é um relato, quase um diário, das descobertas e decepções desta busca. Decidi iniciar esta segunda investigação ao receber uma mensagem psicografada impressionante.

3) Depois de escrever a biografia de Chico e investigar a psicografia, você mudou? Ainda é tão cético quanto há dez anos, quando foi a Uberaba iniciar a biografia de Chico?

Continuo um jornalista, com aquele velho defeito de fabricação: o de questionar, duvidar, checar e ?rechecar? sempre. Não tenho a fé consolidada ainda, mas hoje acredito mais sim. Meus livros, eu acho, atingem espíritas e não-espíritas, são lidos por quem acredita, por quem não acredita e por quem quer acreditar, justamente porque refletem esta minha busca, minhas dúvidas e minhas convicções também.

Não escondo nada, não tento convencer ninguém. Sou uma testemunha como o leitor. Acho que meus livros levam o leitor à dúvida: faz o cético duvidar do próprio ceticismo e o crédulo duvidar da própria credulidade. Hoje eu sei que é preciso respeitar sim o mistério. Já é hora de vencer nossos preconceitos e encarar, com menos medo e menos cinismo, um tema fundamental para todos nós: a morte. Existe vida depois da morte? O que acontece com a energia que nos move quando nosso corpo deixa de funcionar? No fundo busco respostas para estas questões quando mergulho neste território onde ?vivos? e ?mortos? se encontram.

Felipe Maciel, da Belém Comunicação. 

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