Marieta Severo, a dona da história

Há cerca de dois anos, quando foi premiada no Festival de Gramado pelo conjunto da obra, Marieta Severo se queixou da falta de bons papéis para atrizes de sua idade. “Na pior das hipóteses, vou ter sempre uma vovozinha para fazer”, exagera ela, aos 58 anos. A verdade, porém, é que a atriz não tem tido do que reclamar. Seja no cinema, no teatro ou na tevê, ela continua fazendo por merecer grandes personagens. Na televisão, por exemplo, já interpreta, há três bem-sucedidas temporadas, a divertida Nenê, a matriarca da série A Grande Família. No cinema, ela volta a incorporar a questionadora Carolina, protagonista da peça e agora também do filme A Dona da História, escrita por João Falcão e dirigida por Daniel Filho. “Ao contrário da Carolina, que é uma crise ambulante, a Nenê é muito pouco questionadora. Ela vive a vidinha dela sem maiores crises”, compara.

No filme A Dona da História, a personagem-título repensa a própria trajetória depois que o marido Luís Cláudio, vivido por Antônio Fagundes, resolve vender o apartamento onde sempre moraram e sugere de se mudarem para um flat. Aos 55 anos, Carolina é realmente “uma crise ambulante”. Em crise com a idade, com o casamento, com os filhos, que cresceram e foram viver suas vidas… Certo dia, diante do espelho do banheiro, Carolina se depara com a jovem que foi aos 18 anos e começa a reviver os sonhos do passado. E o que é pior: começa também a questionar as muitas possibilidades que teve, pela vida afora, de seguir outros rumos, de conhecer outros amores, de viver outras vidas… “A Carolina chega aos 50 sem saber se a vida que ela vive é aquela com que sempre sonhou… Todo mundo, mais cedo ou mais tarde, faz essa pergunta. Pessoalmente, estou muito satisfeita com a história que construí”, afirma.

E não é para menos. Profissionalmente, a carioca Marieta Severo da Costa coleciona sucessos no teatro, no cinema e na televisão. Por coincidência, ela estreou nos três veículos em 1965, quando fez a peça Feitiço de Salém, o filme Society em Baby-Doll e a novela O Sheik de Agadir, onde interpretou uma das primeiras “serial-killers” da tevê brasileira: a misteriosa Madelon, mais conhecida pela alcunha de Rato. Ainda na tevê, fez também a Madeleine de Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes, a Loreta de Pátria Minha, de Gilberto Braga, e a Alma de Laços de Família, de Manoel Carlos. “Até agora, estou indo bem. Mas, se até a Meryl Streep reclama, não sou eu que vou me dar por satisfeita…”, brinca ela.

Encomenda

A Dona da História, em cartaz em 230 salas do circuito nacional, nasceu de uma encomenda feita por Marieta ao dramaturgo João Falcão. Ela tinha acabado de assistir à peça A Ver Estrelas, do próprio João, quando pediu que ele escrevesse um texto para encenar com Andréa Beltrão. A peça ficou em cartaz dois anos, foi assistida por mais de 100 mil espectadores e ganhou o Prêmio Sharp de Melhor Peça de 1998. Marieta confessa que levou um susto ao saber de Daniel Filho que A Dona da História viraria um filme. Não mais com Andréa Beltrão, mas com Débora Falabella no papel de Carolina quando jovem. “Eu e a Andréa somos muito fogueteiras. Já a Débora, não. Ela é mais tranqüilona. Tive de me afinar com a Débora para reconstruir a Carolina”, explica.

A atriz ressalta que o fato de já ter interpretado a Carolina no teatro não facilitou muito a sua transposição para o cinema. Muito pelo contrário. “Eu realmente tive de apagar a Carolina do palco para interagir com a outra, do filme. Esse trabalho foi desafiador porque, ao mesmo tempo que fazia a mesma personagem, fazia outra completamente diferente”, brinca.

Outro desafio enfrentado por Marieta nas filmagens foi habituar-se à obsessão do diretor Daniel Filho pelo “take one”. Salvo raríssimas exceções, quando era realmente obrigado a refazer uma cena, ele apostava sempre no primeiro “take” que rodava. “Costumo dizer que o Daniel é take um e eu, take 53. Por mim, refazia tudo. Mas, no teatro, também não deixa de ser assim: subiu a cortina, você tem de fazer! Afinal, o público está ali, à sua espera”, compara.

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