Mariana, uma heroína agridoce

A missão de Chocolate com Pimenta é deixar o público com “água na boca”. Isso porque desde Estrela-Guia, em 2001, a emissora não acerta na receita da novela das seis. As anteriores A Padroeira, Coração de Estudante, Sabor da Paixão e Agora é Que São Elas desandaram na audiência. Para atingir o objetivo, Walcyr Carrasco garante que já tem a sua principal arma: a atriz Mariana Ximenes. A loirinha de rosto angelical é a aposta do autor para viver a heroína Ana Francisca, protagonista que vai passar por uma verdadeira metamorfose durante a novela que estréia amanhã. Para Walcyr, Mariana oscila entre a doçura e a malícia, exatamente as características necessárias para Ana Francisca. “Sempre pensei na Mariana para protagonizar a novela. E ela tem a beleza versátil de que preciso”, explica o autor.

A trama de Chocolate com Pimenta segue o molde tradicional de folhetim. É centrada na história de Ana Francisca e todos os núcleos convergem para ela. Inspirada em A Viúva Alegre, de Franz Lehár, a novela é basicamente a trajetória de uma órfã que fica rica ao se casar com o dono de uma fábrica de chocolates e, após ficar viúva, volta para se vingar das humilhações que sofreu. A transformação de “patinho feio” em mulher exuberante é um dos atrativos do personagem de Mariana, que tem um filho com Danilo, papel de Murilo Benício. Os dois brigam a novela inteira e terminam com um óbvio final feliz. “Vai ser uma novela fácil de entender e apropriada para todas as idades”, avisa Mariana.

Além da trama “digestiva”, o elenco é recheado de nomes de peso. Caso dos dois atores que formam o triângulo amoroso com a protagonista. Murilo Benício e Priscila Fantin vêm de papéis importantes em O Clone e Esperança. No caso do ator, Murilo queria mesmo uma novela menos “puxada”. Na pele do “don juan” Danilo, o ator vai ter de fazer o público torcer para que o personagem termine com a heroína. Isto em um papel de época, raro na sua carreira televisiva. “Fiz pouca época. Mas admito que estou adorando”, confessa.

Beldades e surpresas

Já Priscila Fantin foi escolhida para viver Olga, a antagonista da novela. Papel bem diferente da lacrimosa Maria de Esperança. Apesar de colocar a atriz para fazer as maldades da trama, o autor não vai deixar de explorar a sensualidade de Priscila. Olga, por exemplo, mostra o joelho para o noivo Danilo, gesto avançado para os anos 20. “Quero surpreender o público”, afirma Priscila. O elenco, aliás, tem ainda as beldades Nívea Stelmann e Samara Felippo. Elas serão irmãs e evidentes cartas na manga do autor. Samara vai ter de convencer num papel cômico. Apaixonada por Guilherme, papel de Rodrigo Faro, a personagem Celina acaba casando com o banqueiro Klaus, de Cláudio Corrêa e Castro, e vai fazer de tudo para evitar a cama do velhote. “Vai ser muito engraçada esta brincadeira de gato e rato. Mas ela ama mesmo é o Guilherme”, enfatiza Samara. Já Nívea vai provar o papel de uma atrapalhada professora. “Mas ela vai mudar quando se apaixonar”, diz a atriz.

A novela também está bem servida de galãs. Isso pode facilitar caso o público rejeite o trio central. Além de Caco Ciocler, que aparece no meio da trama, Walcyr conta com Marcelo Novaes, Rodrigo Faro e Tarcísio Filho. O personagem de Marcelo Novaes, por exemplo, vai arrancar suspiros de Jezebel, a vilã vivida por Elizabeth Savalla. “Mas o Timóteo não tem idéia do seu poder de sedução. Ele é um caipira ingênuo”, aponta Novaes. A “cereja do bolo” da novela, no entanto, é a oportunidade de ver o galãzinho Kayky Brito na pele de Bernardete, o filho que Jezebel cria como menina. Após o sucesso que fez como o vampirinho Zeca de O Beijo do Vampiro, o ator é uma isca para a audiência. “Vou até usar meia-calça para esconder os pêlos das pernas”, revela Kayky.

Para viver os 48 personagens da trama, Walcyr chamou os necessários “ladrões de cena”. As brigas entre o casal vivido Lília Cabral e Fúlvio Stefanini, por exemplo, serão um dos atrativos do início da novela. Já a vilã Jezebel vai infernizar a vida de todos. Elizabeth Savalla garante que está disposta a grandes sacrifícios para apimentar a adocicada Chocolate com Pimenta. “Sei que vou levar muita torta na cara”, prevê a atriz.

Três movimentos

Chocolate com Pimenta será dividida em três partes. Começa em 1922, quando Ana Francisca perde o pai e vai morar na fictícia cidade de Ventura. Lá, a personagem ficará no sítio da família, junto com a avó Carmem, o tio Margarido, os primos Timóteo e Márcia, e a “agregada” Dalia, respectivamente interpretados por Laura Cardoso, Osmar Prado, Marcello Novaes, Drica Moraes e Carla Daniel. Nessa época, Ana é constantemente humilhada por Olga, de Priscila Fantin, e engravida de Danilo, de Murilo Benício. Mesmo assim, Ludovico, dono da fábrica de chocolates vivido por Ary Fontoura, casa-se com ela. Ele a leva para morar em Buenos Aires e ensina ela a se vestir e a ter boas maneiras. Logo a deixa viúva, rica e com uma caixa que só deve ser aberta em extrema necessidade. “É um dos segredos da novela”, confirma Jorge Fernando.

Após sete anos, começa a segunda fase da trama, quando Ana volta para se vingar dos habitantes de Ventura. Troca o visual com trança, óculos e roupas humildes por cabelos soltos e elegantes vestidos pretos. Ana ameaça fechar a fábrica de chocolates para prejudicar a cidade e briga com Danilo, pai de seu filho. Nesse “round”, no entanto, leva a pior: a vilã Jezebel toma o controle da fábrica. Na terceira fase, Ana está de volta à estaca zero, a viuvinha começa a se reeguer com a chegada do misterioso pintor Martim, personagem de Caco Ciocler.

Território preferido

No início, Walcyr Carrasco pensou em ambientar Chocolate com Pimenta no Século XIX. Depois cogitou trazer a trama para os dias atuais. Inquieto pela impossibilidade de fazer uma heroína ingênua soar verdadeira, resolveu se fixar nos anos 20, a mesma usada em O Cravo e a Rosa, novela que marcou sua estréia na Globo, em 2000, com o falecido Walter Avancini. “A protagonista é namoradeira e fazer isso com ingenuidade hoje em dia seria difícil”, ressalta Walcyr.

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