Marcos Veras ri de obsessões sociais

Sabe essa obsessão em ser bem-sucedido na vida, ter status, prestígio e ainda ser feliz no Facebook e no Instagram? É dessa busca incessante por uma vitrine a ser invejada, que torna o cidadão refém de um sistema social repleto de convenções, que trata Acorda pra Cuspir. Texto de Eric Bogosian (que interpreta o capitão Danny Ross na série Law & Order: Criminal Intent), o monólogo estreia nesta quarta, 11, no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, com Marcos Veras, um expert em fazer a plateia rir – nem que seja de nervoso. “Acho que muita gente pode se identificar e pensar: ‘será que ele está falando comigo?'”, comenta o ator, que falou ao Estado por telefone.

“É um personagem chamado José Silva, que pode ser qualquer brasileiro, é um ator sempre cobrado por ser famoso, por ganhar dinheiro, por ter carro importado, por querer fazer cinema em Hollywood, ele passa a vida toda sendo cobrado por ele e pela sociedade de ser alguém e esquece de apenas ser. Esquece de ser feliz, esquece da família, esquece dele. É um ator por acaso. Poderia ser um bancário, um vendedor ou qualquer outra coisa.”

Após oito anos fazendo standu up e um passado com o Porta dos Fundos, Veras sabe que o público poderá ir ao teatro com a expectativa de encontrá-lo novamente em um stand up, mas Acorda pra Cuspir foge do gênero: vem com figurino, cenário, iluminação e todo o aparato de um teatro mais convencional. O texto também aborda a exposição de felicidade que as pessoas têm feito pelas redes sociais, nicho sem espaço para o fracasso. Com o diretor Daniel Herz e Maurício Guilherme, responsável pela tradução, Veras participou da adaptação e do corte do texto original, que era mais comprido. “Também tem essa. As pessoas não aguentam ficar uma hora paradas em um lugar sem olhar o celular. E brincamos com isso no início do espetáculo, dizendo: ‘gente, vocês vão embora, mas não é agora, que a peça acabou de começar’. Sempre houve ganância e ambição, desde que o mundo é mundo, mas os tempos modernos e as rede sociais potencializaram isso. Você não precisa mais ser um artista para ser famoso, basta ter seguidores no Instagram. Hoje em dia, importa muito a quantidade de likes que você tem.”

Veras tomou contato com a obra de Bogosian ao ver Bruno Mazzeo encenando outra peça do autor, Sexo, Drogas e Rock’n roll (Sex, Drugs and Rock’n Roll), até que encontrou Wake Up and Smell the Coffee. Algumas adaptações foram feitas para que o texto coubesse na embocadura do ator, mas a essência, assegura, é global e prevalece na adaptação.

Longe da TV desde outubro, quando deixou o Encontro, de Fátima Bernardes, Veras deve voltar à tela da Globo, empresa em que tem contrato fixo, no segundo semestre. Até lá, terá acumulado uma série de trabalhos no cinema, alguns em fase de rodagem – caso de Festa da Firma, que vem gravando no Rio, em que ele é o protagonista, gerente do RH da empresa que serve de cenário principal a um enredo sobre ambiente corporativo. A partir de 30 de junho, estará nos cinemas com seus antigos companheiros de humor, o pessoal da Porta dos Fundos, no primeiro longa-metragem do grupo, Contrato Vitalício. E, em setembro, estreia Um Namorado para Minha Mulher, com Ingrid Guimarães e Caco Ciocler, de Júlia Rezende.

Para não dizer que Veras só sabe fazer rir, é no drama que se encaixa um outro longa-metragem já rodado: O Filho Eterno, realizado em Curitiba, trata da relação entre um pai e um filho com síndrome de Down, baseado no livro de Cristovão Tezza. “É um trabalho diferente do que as pessoas conhecem de mim. Gosto de experimentar todas as áreas. A comédia é meu cartão de visitas, está sempre muito presente na minha vida, mas fazer outros tipos de trabalho é sempre um desafio gostoso.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Voltar ao topo