Maratona festeja 150 anos do dramaturgo Anton Chekhov

O dramaturgo que tão bem retratou o fracasso e os amores não realizados continua celebrado – o médico russo Anton Chekhov (1860-1904), que se tornou um mestre ao reproduzir a imagem e a alma do ser humano, com suas sutilezas, contradições e banalidades, inspira a partir de hoje uma vasta programação que vai ocupar a Funarte durante dois meses em homenagem aos 150 anos de seu nascimento. Trata-se do Espaço Chekhov 2010, conjunto de espetáculos, workshops, exposições e debates, um autêntico cruzamento entre o teatro, com suas coxias, camarins e cenários, e os gabinetes de pesquisa e trabalho.

“A proposta é apresentar as diversas facetas da obra de Chekhov”, comenta a curadora Elena Vassina, professora da USP e especialista em literatura russa. “E, para isso, contamos com a colaboração de um especialista na obra de Chekhov, o encenador Adolf Shapiro.” Ele dirige “Chekhov4 – Uma Experiência Cênica”, projeto que será executado pela Cia. Mundana de Teatro, formada por atores brasileiros, e que estreia hoje.

Shapiro é reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes encenadores das peças de Chekhov. Conhecedor do método Constantin Stanislavski de atuação (que busca a “verdade artística”), ele aplica tal filosofia na montagem paulistana, que oferece uma concepção inovadora – o público irá assistir ao primeiro ato de “A Gaivota”, ao segundo de “Tio Vânia”, o terceiro de “O Jardim das Cerejeiras” e ao último e quarto ato de “As Três Irmãs”.

“Não haverá confusão, pois a estrutura dramática das peças é muito parecida”, comenta Elena, que exemplifica: “No primeiro ato, há um enlace, as esperanças, surgem os primeiros acontecimentos; o segundo é marcado pelo desenvolvimento dessa sequência; no terceiro, surgem os conflitos, as colisões; e, no quarto, tudo volta a ser como antes. Não se trata de uma estrutura simplista, mas inovadora.”

Para justificar, Elena se recorda da carinhosa relação surgida entre Shapiro e o elenco brasileiro (Aury Porto, Luah Guimarãez, Fredy Állan, Lúcia Romano, Sylvia Prado, Sérgio Siviero, Silvio Restiffe e Vanderlei Bernardino) que, há um mês, ensaiou em São Paulo. “Acredito que a magia do texto explica isso”, afirma. “Como o teatro de Chekhov sempre detestou o superficial, o ator necessita abrir sua alma e buscar a essência humana, o que desperta uma relação muito próxima com o diretor.” Para ela, o teatro de Chekhov aproxima-se do poético, algo como Pushkin em prosa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Programação

“Chekhov4 – Uma Experiência Cênica”. Peça estreia hoje;

“Enfermarias No. 1-6”. Leitura dramática com Maria Volskaia, dias 17 e 18;

“Pequenas Mortes” (Procedimento 2). Corpo-instalação da performer Vera Sala, dia 24;

“E A Vida Continua – Uma Etnografia Chekhoviana”. Audiotour a partir do dia 30;

“Valsando com Chekhov”. Exposição permanente de José Roberto Aguilar.