Livros e conhecimento podem se tornar receita

Mais de meio milhão de pessoas passaram pelo Centro de Exposições Imigrantes, nos 11 dias da Bienal do Livro de São Paulo. A estimativa inicial era receber entre 550 e 600 mil visitantes. Durante a bienal, os 320 expositores apresentaram dois mil lançamentos e colocaram à disposição do público 1,3 milhão de exemplares. Em pesquisa realizada entre os dias 17 e 22, 75% dos visitantes compraram livros.

O mercado estaria se aquecendo? Não é o que dizem as pesquisas oficias – 20% a menos de títulos em cinco anos -, e tampouco o que dizem os livreiros, esses batalhadores que tentam emprestar conhecimento à população.

Dia desses, o Chaim, um dos mais tradicionais livreiros do Paraná, esteve visitando a redação de O Estado do Paraná. Ele comentou que era uma barbaridade o fato de o brasileiro não gostar de livros. Que nós preferimos comprar uma cerveja. Uma cerveja? Ora, a bebida nacional custa 2,50 reais, às vezes 3 reais. Um livro custa os olhos da cara. Não é bem assim, discordou Chaim. “Existem bons livros, muito úteis e fundamentais em qualquer residência e/ou escritório, que custam apenas 3 reais.” Chaim trouxe vários desses para comprovar essa afirmação. A bela Carta de Caminha: a Notícia do Achamento do Brasil são 98 páginas de um texto esquecido, embora memorável: “Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender os olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nele, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares… águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-à nela tudo, por bem das águas que tem.”

Nosso querido livreiro curitibano, Chaim (aliás injustiçado pela Prefeitura e seu IPTU) apresentou também, a 3 reais cada um, A Constituição da República Federativa do Brasil, o Dicionário de Matemática e o Estatuto da Criança e do Adolescente – todos da Editora Expressão e Cultura, bem práticos, pequenos, em formato de bolso. Se você é cidadão deste País, precisa desses compêndios tanto quanto oxigênio. Por outro lado, se alguém já possui essas obras, e preferir um texto mais ameno e prazeroso, a sugestão, tambem a 3 contos de réis, fica para Que Presente te Dar do intelectual Affonso Romano Sant’Anna, uma coleção de 44 crônicas poéticas.

O mercado editorial vive um momento difícil como a maioria das atividades neste País que insiste em se manter paralisado. Segundo a Câmara Brasileira do Livro, em 1997 foram editados 51.460 novos títulos e vendidos e impressos 381.870.374 exemplares. As vendas atingiram 348.152.034 de livros para um faturamento de R$ 1.845.467.967. No ano de 2002 (último pesquisado), foram editados apenas 39.800 títulos, impressos 338.700.000, vendidos 320.600.000 para um faturamento de R$ 2.181.000.000. As quedas atingiram cerca de 20% no número de títulos e 10% na tiragem total. Em reais, não se pode considerar que houve um aumento, devido a inflação do período e a grande desvalorização do real em janeiro de 1999.

Sim, o brasileiro não gosta de ler desde os tempos do primário e do ginásio, atualmente ensino fundamental. A grande maioria faz cara feia quando os professores sugerem este ou aquele título para lição, trabalho e resumo. Os adultos reclamam que gostariam de ler, mas nos dias de hoje, o dinheiro é reservado para as necessidades básicas. Pode ser. Mas é tempo de reavaliarmos conceitos. O desemprego existe em grande parte, pela falta de pessoal prepaprado, treinado e qualificado. Conhecimento é o nome do jogo. O conhecimento pode ser transformado em renda, em progresso e melhoria da qualidade de vida. E o conhecimento se adquire por meio dos livros, didáticos ou não.

Em tempos de cigarros e cerveja a 3 reais, cinema a 15, futebol a 30, que tal livros a 3, talvez a 15?

Existe boa leitura por preços acessíveis

Ainda sobre o mito de que livros são caros, considere uma editora recém-lançada no mercado (5 anos) mas gerenciada por livreiros experientes e inteligentes, a Sextante. Eles propõem a publicação de livros que sejam claros e agradáveis e que tragam uma significativa contribuição para o bem viver e o crescimento pessoal. Bingo. Parece bom demais para ser verdade. Melhor ainda, na carta de apresentação, o editor garante que “procura conquistar novos leitores pela relevância dos temas e pelos preços acessíveis praticados.”

Quase uma utopia. Verdade seja dita, chegaram alguns exemplares na redação. Auto-ajuda, espiritualidade, romances factuais, coisas assim. Com muita coragem e sem preconceito, li O Monge e o Executivo (R$ 19,90), do americano James C. Hunter. Muito bom. O escritor descobriu uma nova maneira de ensinar métodos de gerenciamento, marketing e liderança sem cair no lugar comum, sem ser chato, criando uma história fictícia e envolvente sobre um típico executivo americano que decide visitar um mosteiro para um retiro com monges para tentar melhorar sua vida.

Hunter escreve com simplicidade e possui aquela técnica inata, que mantém o leitor atento após cada parágrafo. Sua maneira de parafrasear desperta a curiosidade e, é nesses momentos, que ele aplica aqui e ali, as lições originais de liderança e crescimento.

Um outro título. O Código Da Vinci, também da Sextante, de outro americano, Dan Brown, 481 páginas, custa mais, 39 reais, um ingresso do Atlético mais os 10 reais de estacionamento na Arena.

Este é um best seller no exterior – 10 milhões de exemplares em 40 países. Uma história de conspiração e polêmica, na qual muitas da provas podem ser encontradas em obras de Leonardo da Vinci. Trata-se de um desses segredos como arca perdida, santo graal ou coisa parecida. Romances históricos estão fazendo sucesso desde o início dos anos 90. (AG)

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