Liberdade para ser inconveniente

Quem não gostaria de criticar ou elogiar, livremente, sem medo de julgamentos, políticas públicas, formas de governo, futebol, a liberdade da imprensa e até direitos humanos? Com as crônicas é possível fazer tudo isso.

E é com toda essa “inconveniência” que o jurista René Ariel Dotti e o professor universitário e doutor em Administração Belmiro Valverde Jobim Castor decidiram compilar seus melhores textos e publicar um livro, cujo título é bastante sugestivo: Crônicas politicamente inconvenientes…e outras nem tanto. O livro foi lançado ontem à noite, na Livrarias Curitiba do Park Shopping Barigüi.

São 70 crônicas – divididas igualmente entre os dois escritores – que falam dos desafios do estado e também de temas mais leves – mas igualmente polêmicos – como o futebol e história.

“Falamos da degradação do estado, da corrupção, da impunidade, da forma como essas questões são tratadas no Brasil. Mas o cotidiano também está presente nas crônicas com o futebol, por exemplo. As pessoas têm a tendência de sofrer pelo futebol, e isso se torna um grande tema a ser discutido. Discutimos desde a saúde no País até a crise aérea. Vivemos um momento em que a tradição do debate democrático terminou, você fala e as pessoas se acomodam, as coisas cívicas estão sendo deixadas de lado. Então, tudo é falado sem medo de julgamentos. Estamos em uma fase que já nos acostumamos a ser mal interpretados”, brincou Belmiro Castor.

Para René Dotti, era preciso escrever crônicas que tratassem de assuntos perenes, caso contrário cairiam no esquecimento. “Hoje se adota muito o jargão do politicamente correto, as pessoas não fazem mais críticas. Mas acho que todo cidadão tem a liberdade de ser inconveniente. Para tanto, selecionamos crônicas cujos temas se mantêm sempre atuais, como a burocracia e o futebol, por exemplo. Para se ter uma idéia, em 1979 foi criado o Ministério da Desburocratização e até ele foi extinto”, disse o jurista.

A obra, que levou cerca de oito meses para ficar pronta, tem também um cunho social. Toda a renda arrecadada com a venda dos livros será revertida para a construção do Centro de Educação Infantil João Paulo II, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. O centro deverá atender 100 crianças na faixa etária de quatro a seis anos, e outras 100, que têm de sete a dez anos de idade.