Lançado o dicionário Fernando Pessoa

Lançado no mês passado no Brasil pela editora Caminho, o Dicionário de Fernando Pessoa e do modernismo Português tornou-se a principal fonte de informações sobre o expoente da literatura mundial.

São mais de mil páginas com 600 artigos escritos por 80 colaboradores, centrada na obra do escritor e nos traços culturais do seu tempo. O Dicionário tem a coordenação do tradutor e crítico de cinema Fernando Cabral Martins, doutor pela Universidade Nova de Lisboa.

Noventa especialistas portugueses e estrangeiros, entre os quais Fernando J.B. Martinho, Manuel Gusmão, Richard Zenith, Haquira Osakabe (professor e investigador brasileiro entretanto falecido, a cuja memória a obra é dedicada), Leyla Perrone-Moisés, Jerónimo Pizarro, Manuela Parreira da Silva e Teresa Rita Lopes, demoraram dois anos para elaborar o dicionário.

Por e-mail, o autor concedeu uma entrevista exclusiva ao O Estado do Paraná, e falou de detalhes da obra já conhecida do público português desde 2008.

– O Estado do Paraná: Qual a sua relação com Fernando Pessoa?

– Fernando Cabral Martins: Leio os livros publicados de Fernando Pessoa há muitos anos. Todos os estudantes em Portugal conhecem Fernando Pessoa desde a escola primária, pois o livro Mensagem é sempre muito lido e citado, bem como os heterônimos.

– O Estado: Como foram selecionados os especialistas que ajudaram a escrever o dicionário?

– FCM: Houve um esforço de encontrar os melhores e mais reconhecidos especialistas dos diferentes temas apresentados no dicionário, tendo sido procurados, para esse, nomes com provas dadas em Portugal, Brasil, França, Itália, Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha.

– O Estado: Fernando Pessoa se interessava por esoterismo, ocultismo. Isso está presente no dicionário?

– FCM: Sim, está, e nem poderia ser de outro modo, dada a importância desses temas no seu universo. Assim, a cada um deles é dedicado um verbete muito completo. E também há um verbete sobre Aleister Crowley, a quem é dado o relevo que lhe é devido no quadro das referências pessoanas.

– O Estado: Os heterônimos do autor são descritos no dicionário?

– FCM: Sim, há igualmente desenvolvidos verbetes sobre cada um dos heterônimos, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, e também sobre cada uma das dezenas de personalidades literárias que constituem os nomes da sua “multidão de autores”.

– O Estado: Você acredita que algum dos heterônimos de Fernando Pessoa foi mais importante para o Modernismo Português?

– FCM: O mais importante de todos, de um ponto de vista quer histórico quer poético, isto é, aquele que tem sido mais citado e mais lido, e aquele cuja influência mais se fez sentir, é Álvaro de Campos. Mais recentemente, tem vindo a subir muito de importância o nome de Bernardo Soares.

– O Estado: Quais são os principais temas abordados nos poemas de Fernando Pessoa que aparecem no dicionário?

– FCM: São os que têm a ver com a obra de Fernando Pessoa, os seus textos e os problemas que levantam, as teorias que lhe dizem respeito, e, ainda, os nomes dos outros filósofos, artistas ou escritores cuja obra tem a ver diretamente com a sua.

– O Estado: É possível dimensionar o legado deixado por Fernando Pessoa?

– FCM:
O legado deixado por Fernando Pessoa é imenso, e boa parte dele mantém-se inédita ou está muito dispersa. É um conjunto de muitos milhares de páginas, que tem vindo a ser publicado ao longo de quase sessenta anos. Mas a sua projeção internacional começou muito cedo, pois logo nos anos 30 há traduções para outras línguas, e, hoje, está traduzido e, é muito valorizado em todo o mundo.

– O Estado: E a relação entre o trabalho de Fernando Pessoa e o Brasil?

– FCM: O interesse dos leitores e estudiosos brasileiros por Fernando Pessoa é já antigo, e alguns dos trabalhos de maior importância da crítica pessoana foram escritos e publicados no Brasil. Não é de estranhar que haja mais de uma dezena de colaboradores brasileiros, todos nomes de referência dos estudos sobre Fernando Pessoa.

– O Estado: Há algum trabalho de Fernando Pessoa preferido pelo autor?

– FCM: Difícil ter outras preferências que não sejam – pese embora a fraca originalidade – as dos livros de Álvaro de Campos e de Bernardo Soares. Mas há um Fernando Pessoa para todos os gostos na diversidade imensa que nos apresenta a sua obra e a aventura da sua arte.