José Saramago revela em ensaio que foi salazarista

São Paulo (AE) – A aldeia chama-se Azinhaga, mas nada ficou dela além do escritor português que lá nasceu, José Saramago, prêmio Nobel de Literatura de 1998, que comemora seus 84 anos no dia 16, com o lançamento de As pequenas memórias (Companhia das Letras, 138 págs., ainda sem preço definido), pequeno ensaio autobiográfico em que revela ter pertencido, aos 14 anos, à Mocidade Portuguesa, ou seja, à juventude salazarista que apoiou o ditador português.

Solidário com outro Nobel, o alemão Günter Grass, que confessou, na autobiografia Beim Hauten der Zwiebel (Descascando a cebola), ter pertencido à Juventude Hitlerista, Saramago concedeu, por correio eletrônico, uma entrevista, em que explica sua adesão compulsória à Mocidade Portuguesa, que apoiava Salazar.

O episódio está descrito na página 131 da pequena autobiografia, que conta a infância e juventude de Saramago.

Em 1936, quando começava a Guerra Civil Espanhola, ele, jovem estudante de uma escola industrial, leu nos jornais sobre o conflito, acompanhou o desenrolar dos combates e percebeu que estava sendo ludibriado pelos militares reformados que censuravam a imprensa. Essa foi a razão por que, mandado pelos colegas ao Liceu de Camões para apanhar sua farda verde e castanha da Mocidade Portuguesa, deu um jeito de ficar no fim da fila até que se esgotasse o estoque das malditos barretes e calções de Salazar.

Na entrevista de Saramago, o escritor fala ainda da adaptação de seu ensaio sobre a cegueira pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles, o aclamado diretor de Cidade de Deus. Espera dele ?que consiga dizer com mais força?? o que tentou dizer no livro, ou seja, ?que há demasiado absurdo no modo como a humanidade está vivendo?.

O politizado Saramago também fala de seu amigo Lula, reeleito presidente. Diz que exige muito mais dele neste segundo mandato, aconselhando que abra os olhos, ?porque era preciso tê-los fechados para não ver o que se passava no PT??.

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