‘Jogo das Decapitações’ é o novo longa de Sérgio Bianchi

“No futuro, esquerda e direita jogarão o mesmo jogo, legitimadas por este tempo horrível que agora vivemos”, diz o cineasta Jairo Mendes (Paulo César Pereio) em Jogo das Decapitações, novo filme de Sérgio Bianchi.

É o olhar crítico da afirmação acima que permeia o longa. Protagonizada por Fernando Alves Pinto (Leandro), a trama faz retrato do momento atual de profunda falta de ideologias que expliquem e resolvam as questões do mundo, e do Brasil, contemporâneo. Ao mesmo tempo, lança discussão sobre a eterna luta pelo poder. “As pessoas acham meu filme polêmico, barra-pesada, Não acho. Acho só que gosto de botar na tela as contradições que estão nos rondando. Como é a burguesia e o poder agora”, disse o diretor em conversa com a reportagem.

Para Bianchi, sempre atento às mazelas e hipocrisias brasileiras, já tratadas em filmes como Quanto Vale ou É por Quilo e Cronicamente Inviável, o cinismo tem dado o tom às relações. “Está todo mundo falso. Fala uma coisa, faz outra. Todo mundo briga com todo mundo. E o sistema está muito aparelhado. Tudo é luta pelo poder”, analisa o diretor.

São estas questões que ele toca ao retratar Leandro, estudante de mestrado que simboliza a apatia e o descomprometimento de sua geração. Aos 30 anos, elabora uma tese de mestrado sobre grupos militantes que lutaram contra o regime militar. É filho superprotegido de Marília (Clarisse Abujamra), ex-guerrilheira que comanda uma ONG que presta assistência a vítimas da ditadura e busca indenização do governo pela tortura que sofreu.

Tímido e perdido em um mundo em que as ideologias se dissolveram na luta pelo poder, Leandro não se firma em emprego algum e conta sempre com a ajuda da mãe, que liga para seus amigos poderosos pedindo trabalho para o filho. Enquanto faz pesquisas para sua tese, descobre um filme dirigido por Jairo Mendes, seu pai, que nunca conheceu: “Jogo das Decapitações”. Mendes é um ex-cineasta símbolo do cinema marginal. As imagens são de Maldita Coincidência, primeiro longa de Bianchi, de 1979, e resolve ir atrás do filme e da história de seu polêmico e profético pai. “É a minha geração. Acompanhei a escalada ao poder de pessoas que não eram do povo, mas da classe média, que foi contra quem era, como o personagem do Pereio, mais anárquico. Quis falar de tudo isso.”

Quanto questionado se está desiludido com o atual cenário sociopolítico do País, o diretor responde: “Todos foram contra a ditadura. Não é questão partidária. Sou contra a cultura do ódio, contra a polarização. Isso me dá raiva. E provoca atitudes cruéis como a violência da polícia, linchamentos… Devemos pensar na disfuncionalidade das coisas”.

É em Rafael (Silvio Guindane), amigo de Leandro, que as contestações de Bianchi melhor se traduzem. Ácido, o rapaz questiona todas ideologias. “Ele, como eu, vê as contradições como uma fotografia a ser analisada. Estas coisas estão na nossa cara. O filme, na verdade, é sobre o óbvio.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

JOGO DAS DECAPITAÇÕES

Direção: Sérgio Bianchi. Gênero: Drama (Brasil/2013, 82 minutos). Classificação: 16 anos.

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