Invasão sueca na capital paranaense

Desde a última década, a Suécia parece ter mudado de vez sua imagem perante os amantes da música pop mundial. Outrora país exportador de artistas de gosto duvidoso como ABBA, Roxett, Europe e Ace of Base, o centro escandinavo se firmou como um grande formador de pequenas bandas de rock que, aos poucos, foram crescendo, crescendo, conquistando espaços maiores no exterior e hoje são reverenciadas por todos os continentes. E é assim que é vista a Suécia hoje: o formidável celeiro de descobertas para os adeptos das sonoridades alternativas.

A diversidade é farta. Tem quem se aproxime mais do pop clean e radiofônico (Cardigans, Wannadies), quem não largue o skate (Millencolin e outros tantos) do prefira ficar sozinho e acompanhado apenas pelo básico de belas melodias e harmonias (José Gonzalez, Jens Lekman El Perro Del Mar), quem não dispense o casamento entre pistas, sintetizadores e batidas eletrônicas (Knife, Alice In Wonderland), quem pire com cogumelos (Love Is All, Dungen) e ainda quem procura arranjos refinados e luxuosos, cheios de cruzamentos sonoros e referências de gêneros diversos (Acid House Kings, Peter Bjorn & John, Club 8, Shout Out Louds). E tem vários selos independentes – como o Labrador – que também vêm se tornando referência nos últimos anos.

Estes três últimos estão no Brasil para mais uma turnê Invasão Sueca, com shows que passam por três cidades (Recife, Curitiba, São Paulo) até a próxima quinta-feira. Na capital paranaense, entretanto, a formação fica reduzida – o nome mais famoso da turnê, o trip PB&J (aquele de Young folks, a famosa “música do assovio”, um dos hinos indies dos últimos anos) está fora do line-up sulista. Mas não faz mal. A qualidade das outras duas formações não deixarão a dever em nada.

Sobretudo pela força do Shout Out Louds ao vivo. Com sete anos de estrada e cinco de carreira fonográfica internacional, o grupo oriundo da cidade de Estocolmo é uma das melhores bandas “estrangeiras” já captadas por um selo alternativo americano nesta década. Pertence ao elenco da Merge – gravadora da Carolina do Norte, criada por dois músicos do Superchunk e uns amigos, e que hoje no canadense Arcade Fire seu nome mais cultuado. E com certeza você já ouviu a sua música mais famosa na televisão.

Shut your eyes, originalmente lançada em single em 2003, acabou incluída no álbum de estréia Howl howl gaff gaff e puxou um disco carregado de energia punk e arranjos crus e para lá de vigorosos. O sucesso estendido pelo lançamento do disco nos Estados Unidos, em 2005, acabou rompendo outras barreiras até que, no ano retrasado, Shut your eyes foi selecionada como canção-tema da propaganda de lançamento de um novo modelo automobilístico. Resultado: tocou na televisão até encher o saco. E projetou o SOL no Brasil, mesmo que de maneira indireta, já que seus discos não ganharam edição física por aqui.

Por e-mail, antes de embarcar para o Brasil, o vocalista Adam Olenius respondeu à entrevista do Paraná-Online.

P: O que significa para vocês fazerem parte do elenco da Merge, que é considerada uma das melhores e mais cultuadas gravadoras independentes do mundo hoje em dia? Como é trabalhar com um selo americano sendo uma banda sueca?

A Merge trabalha com um monte de outras bandas européias. Eles são excelentes pessoas para se trabalhar junto e ainda entendem o que a gente quer fazer.

P: O Shout Out Louds ficou famoso no Brasil depois do uso massivo de Shut your eyes em uma propaganda de automóvel na TV, anos depois de seu lançamento original. Vender música para usos comerciais acaba sendo mesmo uma boa saída para pequenos artistas nestes tempos de crise na indústria fonográfica?

Isso nos salvou um bocado. Propiciou a opo,rtunidade de fazer mais shows e ainda investimos dinheiro para lançar nosso álbum em outros países. Acaba sendo bem triste de dizer isso, mas é bem difícil vender discos atualmente.

P: Vocês têm uma estreita amizade com o trio Peter Bjorn & John.É a primeira vez que tocam juntos fora de seu país?

Somos realmente muito amigos. Bjorn produziu nosso álbum mais recente e todos nós moramos em Estocolmo. Ted, nosso baixista, ainda dirigiu o videoclipe de Young folks, hit deles. Mas só havíamos tocado juntos na Suécia. Esta é a primeira oportunidade que surgiu for a do país.

P: A sonoridade de Howl howl gaff gaff era bem crua e próxima à pegada do punk rock. No novo álbum, Our ill wills, os arranjos estão mais complexos e grandiosos, cheios de texturas. Há o uso de cordas, fortes batidas rítmicas, violões e muita percussão. O que mudou nestes quarto anos de intervalo entre a concepção de ambos?

Estamos mais confiantes. Quisemos fazer um disco mais detalhado e cinemático, onde o som pudesse remeter a imagens. Não estávamos mais interessados em focar apenas nas guitarras que já tocamos habitualmente e apenas adicionar elementos de cordas e outras coisas do tipo. Tivemos muita influência ainda da dance music e músicas tradicionais, daquelas bem antigas. Ah, e ainda há referências musicais vindas do Caribe e América do Sul.

P: Por falar nisso, você gosta de algo na música brasileira? Há vários trechos rítmicos em Our ill wills que lembram samba…

Sim, eu amo a música brasileira! Especialmente aquela feita nas décadas de 60 e 70. Caetano Veloso é um excelente cantor e compositor.

P: E quando vocês vão começar a gravar o terceiro álbum?

Nosso show em São Paulo, depois de Curitiba, será realmente o último desta turnê. Quando voltarmos para casa, daremos um tempo. Daí só depois vamos começar a gravar.

P: E haverá alguma nova canção já sendo tocada no Brasil?

Infelizmente não. É que não houve mesmo tempo de compor qualquer coisa. Mas espero que enquanto a gente estiver aí novas idéias possam surgir.
Serviço

Invasão Sueca 2008 – Shout Out Loud e Club 8. Amanha, às 22h, no Era Só O Que Faltava (Rua República Argentina, 1.334).
Ingressos: R$ 30,00 (inteira). Pontos de Venda: www.ingressorapido.com.br, Fnac (Shopping Park Barigui), Ticket Center (Shopping Omar) e no local.
Informações: (41) 3342-0826.