Intuição em forma de música

O cantor Pedro Mariano, herdeiro de Elis Regina com o maestro César Camargo Mariano, acaba de lançar pela Trama Intuição, que começou a ser gravado em janeiro, menos de um mês depois da turnê de Voz no Ouvido. “É um repertório bastante eclético, passa por territórios que eu nunca tinha visitado antes, e que não tivemos tempo de testar nos shows – daí a `intuição'”, explica o cantor. “Dar unidade e uma assinatura a uma seleção tão variada de canções foi o grande desafio desse trabalho.”

De fato, as músicas de Intuição vão de Lulu Santos e Nelson Motta (De repente), a Jair Oliveira, o Jairzinho (O amor se acaba e Tudo certo, esta última com Dom Beto), passando pelos “barões” Cazuza, Bebel e Dé (Preciso dizer que te amo) e pelo pessoal do Pato Fu (5 Discos, de John e Fernanda Takai, e Por amar, de Ricardo Koctus), chegando a Tom Jobim (Você vai ver) e outros. O disco traz ainda 20 Anos Blues, de Suely Costa e Victor Martins, uma alusão aos vinte anos sem Elis Regina, com a participação de Zélia Duncan.

Os arranjos e a produção musical levam a assinatura do paizão César Camargo Mariano. “Trabalhar com o meu pai é maravilhoso, até porque é uma das raras oportunidades que eu tenho para encontrar com ele, pois ele mora nos Estados Unidos e eu vivo aqui. E o mais legal é que ele adora trabalhar com cantores; meu pai seria capaz de trocar 20 discos autorais, vendendo 100 mil cópias, por um CD com um intérprete.” Pedro se queixa da dificuldade de encontrar esse desprendimento em outros compositores: “São raros os compositores que conseguem se desprender da sua obra para buscar outro artista além dele próprio. Acho que o papel do compositor é principalmente fornecer música, deixar um legado. Para mim, o grande compositor é aquele que consegue atingir o maior número possível de artistas. Eu, como intérprete, dependo fundamentalmente dos compositores; se eles pararem de me mandar músicas, eu não terei o que cantar”.

Acumulando os genes de Elis Regina e César Camargo Mariano, Pedro não poderia ele mesmo compor? “Vontade eu tenho, eu só não tenho a habilidade. Sou autocrítico o suficiente para perceber que as coisas que eu componho ainda não têm a maturidade necessária para que eu possa trabalhar com elas. Mas eu fico exercitando, só que compor ainda não faz muito a minha cabeça.” Ele aproveita para explicar por que se manteve afastado das homenagens à sua mãe: “Fiquei mesmo meio distante, principalmente porque estava gravando um disco. Preferi homenageá-la com uma música (20 Anos Blues)”. E desabafa: “As pessoas acham que ser filho de artista é uma grande mamata, que você aparece na mídia a hora que quer… mas se esquecem que você aparece sim, mas para falar da sua mãe. Por isso me recolhi, mesmo que isso diminua a minha exposição, para que eu possa aparecer para divulgar o meu trabalho”.

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