Indispensável leveza de Samara Felippo

Por causa da pele clara, Samara Felippo sempre ouviu dos amigos que tinha “cara de época”. Mas nos cinco anos em que emendou um trabalho no outro na Globo, a atriz sempre foi chamada para tramas que se passavam nos dias atuais. Até que recebeu do diretor Jayme Monjardim o “convite” para interpretar a impulsiva Mariana, de “A Casa das Sete Mulheres” – na verdade, uma oportunidade “cavada” por Samara. Ao saber que estavam fazendo a seleção de elenco para a minissérie, a atriz bateu à porta do diretor para conversar. “Não fui lá pedir emprego, até porque não sei fazer isso. Mas queria mostrar que estava disponível”, explica a atriz – cuja última personagem foi a soropositiva Érika, de “Malhação”, em 2001.

De fato, Samara já havia recebido outros convites para trabalhar com Jayme. Mas nunca pôde aceitar porque estava sempre comprometida com alguma produção. Desta vez, foi diferente. A atriz passou o ano de 2002 inteiro fazendo apenas participações em programas como “A Turma do Didi” e “Sítio do Pica-pau- Amarelo”. “Não fiquei parada. Fiz até um filme nesse tempo. Mas confesso que prefiro mil vezes estar numa produção, gravando todos os dias”, admite a atriz de 24 anos, que já atuou em três novelas e cumpriu três temporadas de “Malhação”.

Agora, Samara não tem do que reclamar. O ritmo de gravação na minissérie é intenso. Além disso, coube a sua personagem fazer o contraponto aos dramas das demais mulheres da estância. “A Mariana é a mais moleca de todas. É como um algodãozinho no meio do chumbo”, define. Chegou a hora, porém, de os autores Walther Negrão e Ana Maria Moretzsohn deslancharem a trama da personagem, que também terá seu quinhão de amor e sofrimento. Depois de viver uma “apaixonite” pelo General Netto, de Tarcísio Filho, e ensaiar um namoro com Corte Real, de Murilo Rosa, ela se apaixona perdidamente pelo peão João Gutierrez, mestiço de branco e índia vivido por Heitor Martinez. Logo, Mariana engravida dele e enfrenta a fúria da mãe, Maria, interpretada por Nívea Maria.

História bem parecida a atriz viveu em “Concerto Campestre”, de Henrique de Freitas Lima. O filme é ambientado em 1860, apenas 15 anos depois da Guerra dos Farrapos, que movimenta a minissérie. As filmagens aconteceram no ano passado em Pelotas, cidade do Rio Grande do Sul que também serviu de locação para “A Casa das Sete Mulheres”. No longa, Samara interpreta Clara Vitória, jovem filha de estancieiro que se apaixona por um maestro, engravida e acaba expulsa de casa. “É muita coincidência… Parece que estou vivendo a mesma história. De certa forma, o filme serviu de laboratório para a minissérie”, analisa a atriz. Se os autores de “A Casa das Sete Mulheres” seguirem à risca o livro de Letícia Wierzchowski, Mariana vai passar três meses presa no quarto, até que Tia Antônia – vivida na tevê por Jandira Martini – a leva para morar com ela.

Tanto no filme quanto na minissérie, a maior dificuldade de Samara foi esquecer seu “carioquês” para adotar uma leve cadência gaúcha. “Cortei meus ?erres? e meus ?xis?, mas também não carreguei no sotaque sulista”, esclarece, em obediência às determinações do diretor, Jayme Monjardim. Como as gírias e a musicalidade da fala dos gaúchos poderiam prejudicar o entendimento em outras regiões do país, Jayme pediu a todo o elenco de “A Casa das Sete Mulheres” que buscasse a neutralidade.

De “neutro”, porém, Mariana só tem o sotaque. Como a intérprete da mais alegre das mulheres da estância, Samara vai de uma nota a outra. Já viveu momentos alternados de revolta, alegria e dor. Mas foi na seqüência em que a personagem recebe o pai ferido da guerra, e depois sofre com sua morte, que a atriz precisou se superar. Samara também perdeu o pai recentemente, vítima de câncer. “Evitei fazer transferências. Era a história dela -não a minha – que estava ali. Mas descobri que temos em comum uma enorme vontade de viver, apesar das dificuldades. Quero conservar isso para o resto da minha vida”, reflete.

Alta Voltagem

A exemplo de Adriana Esteves e Flávia Alessandra, Samara Felippo não teve medo de “pagar mico”. Aceitou no ato o convite para participar do quadro “Estrela por um Dia”, que revelava novas atrizes no “Domingão do Faustão”. No dia seguinte, foi ao supermercado e se surpreendeu ao ser abordada por um rapaz que a reconheceu da televisão. Dali, Samara não parou mais. Viveu a mimada Simone no “remake” de “Anjo Mau”, em 97, e a “patricinha” Baby, de “Meu Bem Querer”, em 98. No ano seguinte, interpretou a publicitária “linha-dura” Gylvânia, de “Suave Veneno”. Emendou a novela com uma temporada em “Malhação”, que se estendeu até 2001. A atriz encarnou a romântica Érika, que descobre ser portadora do vírus da aids. “Foi uma oportunidade maravilhosa de esclarecer sobre a doença. O Brasil ainda está carente de informação”, acredita.

No ano de 2002, Samara ficou restrita a breves participações em programas da Globo. Mas nem por isso se acomodou. Aproveitou o tempo para retomar a faculdade de Cinema e debutar como atriz na tela grande. Durante as filmagens do longa “Concerto Campestre”, de Henrique de Freitas Lima, ainda aproveitou a oportunidade para fazer um “estágio” no “set”. “Perguntava tudo para a equipe técnica! Por sorte, eles eram pacientes!”, brinca a atriz, que já escreveu o roteiro de um curta e um longa. Mas não cogita a idéia de “trocar de lado”. “Até gostaria de, no futuro, tocar um projeto meu. Mas atuar é tudo que mais gosto de fazer”, reconhece.

Voltar ao topo