Humor em estado bruto

tv31.jpgMalvino Salvador não teve nem o trabalho de fugir do estigma. Apesar de ter convencido na pele do mal-encarado Tobias, em Cabocla, ele logo foi chamado para voltar num papel diametralmente oposto. O cozinheiro Vitório, de Alma Gêmea, tem formado um par bem-humorado, e até apimentado, com Drica Moraes, a Olívia da trama das seis. Os dois formam um casal que se gosta mas vive brigando, enquanto tocam para a frente o restaurante em que trabalham. Para Malvino, a companhia de uma atriz experiente como Drica Moraes é o melhor de tudo. ?Eu só posso evoluir trabalhando com ela. A Drica é uma das melhores atrizes do País?, derrete-se.

Fazer rir, por outro lado, é uma exigência nova na carreira de Malvino Salvador. O ator admite que tudo que trabalhou e estudou até agora foi dirigido ao drama. E para complicar, ele vê muitas semelhanças entre o Tobias e o Vitório, apesar de o primeiro ser um personagem mais ?carregado? e o segundo mais bem-humorado. Ainda assim, Malvino descreve os dois como ?estourados? e grosseiros, mesmo sendo pessoas leais e amáveis. As semelhanças, contudo, dificultaram o processo de construção do atual personagem. ?A grande diferença é que o Tobias era capaz de matar e o Vitório não. O Tobias tinha aquele sangue frio do matador, o olhar do matador, uma coisa interna?, distingue.

Além de buscar as diferenças essenciais entre os dois personagens, Malvino precisou criar uma maior intimidade com o universo do humor. Para isso, leu alguns livros sobre comédia e recorreu à filmografia de Charles Chaplin. A essa ?pitada? de humor, ele acrescentou às observações que fez durante cerca de três semanas na cozinha de um restaurante em São Paulo. Lá, além de entender como é o dia-a-dia de uma cozinha, o ator encontrou o tom ideal para o personagem. ?Seu Zé, o chefe de cozinha de lá, é muito amável, mas tem um jeitão meio grosseiro. Ele é do interior, é um cara que aprendeu na prática, não fez curso nenhum. E o Vitório também é assim?, compara.

Modelo

Nascido em Manaus em 1976, Malvino Salvador não se assusta com a exposição escancarada que a televisão impõe. Antes de despontar em Cabocla, em 2004, o ator já se destacava como modelo em sua cidade natal, onde ficou até os 25 anos, e em São Paulo, para onde se mudou para estudar teatro. Ainda assim, admite, nada se compara à projeção que a televisão proporciona. E a resposta do público que o aborda nas ruas é vista por Malvino como reconhecimento de um bom trabalho. Curiosamente, até mesmo o ?carrancudo? Tobias ganhou o apoio do público, quando o personagem teve a noiva Zuca ?roubada? pelo amigo Luiz Jerônimo. ?Uma vez eu fui parado em uma blitz e um dos policiais me chamou no canto e falou: ?Olha, rapaz, mata aquele almofadinha?. Imagina! Foi inacreditável!?, diverte-se.

Os frutos colhidos nos últimos dois anos são conseqüência de uma espécie de contrato de risco entre Malvino e seus pais. Quando deixou Manaus em 2001, convidado pra trabalhar como modelo em uma agência em São Paulo, ele pediu que o pai bancasse seus estudos por um ano. Se as coisas não dessem certo, ele voltaria para casa e concluiria o curso de Ciências Contábeis, interrompido no quarto ano, e embecaria terno e gravata até se aposentar pelo INSS. ?Eu queria ir com um objetivo e garanti que estudaria e ele teria esse retorno. No começo eu passei por algumas dificuldades, mas depois as coisas foram dando certo?, orgulha-se. Com a curta carreira cada vez mais consolidada, Malvino Salvador já projeta os próximos passos. Ele estuda alguns textos para voltar ao teatro depois do término de Alma Gêmea. E sonha estar em uma trama contemporânea, quem sabe, escrita por Manoel Carlos. ?Eu adoraria. Gosto muito daquele ambiente, das músicas, do Leblon… Ele tem um refinamento artístico…?, insinua-se.

 ?Laboratório? em cozinha paulistana

Foram três horas por dia durante três semanas. A bisbilhotice de Malvino Salvador na cozinha de um restaurante paulistano lhe valeram mais do que preciosas observações para compor o cozinheiro Vitório, de Alma Gêmea. A começar pelo encontro com o cozinheiro Seu Zé, chefe de cozinha que inspirou o personagem. ?Eu fiquei mais atento ao modo como o cozinheiro lida com sua arte, como ele mexe o prato, como ele quebra um ovo, como ele prova, seu olhar, sua respiração. Isso para mim era o mais importante?, conta.

Tanto que a experiência não foi suficiente para fazer do ator nem um ?cozinheiro de fim de semana?. Prático e com a agenda quase sempre apertada em função das gravações, Malvino prefere sair para jantar a se arriscar a preparar a própria refeição. O ator garante, entretanto, que, antes desse envolvimento com a culinária proporcionado e exigido pelo atual personagem, sua intimidade com a cozinha era ainda menor. ?Esse laboratório foi muito importante para mim porque eu mal sabia fritar um ovo?, confessa.

De mal saber fritar um ovo a ousar preparar um jantar completo para os amigos, a evolução do ?chef? manauara é digna de menção. A tal ponto que o ator arrisca enumerar os itens das receitas de um ou dois pratos, autênticas ?especialidades da casa?. ?Eu aprendi a fazer umas coisinhas, como uma Picanha às Avessas e um Arroz de Bacalhau, além de outras coisinhas básicas, como alguns molhos?, gaba-se. Ele jura que, até hoje, nenhum dos amigos reclamou de seus temperos. Afinal, amigo é para essas coisas…

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