Há mais de trinta anos que o Carnaval tem lugar cativo nas novelas brasileiras

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Tânia Kalil no Carnaval de Senhora do Destino.

Desde que Beto Rockfeller revolucionou a teledramaturgia brasileira, novela e Carnaval sempre desfilaram juntos. A trama de Bráulio Pedroso, exibida pela Tupi em 1968, abriu alas para histórias mais realistas, calcadas no dia-a-dia do brasileiro. Assim sendo, era questão de tempo para o Carnaval, a maior festa popular do País, aparecer nos folhetins. Foi o que aconteceu em Bandeira 2, Partido Alto e Felicidade, por exemplo. De vez em quando, até personagens da ficção, como os de O Clone, O Quinto dos Infernos e Senhora do Destino, caem na folia durante o desfile das escolas de samba do Rio.

Este ano, é Senhora do Destino que saúda o povo e pede passagem. A Unidos de Vila São Miguel, presidida por Giovanni Improtta, de José Wilker, vai aproveitar o desfile da Grande Rio, na segunda-feira de Carnaval, para mostrar samba no pé. A escola da novela das oito tem presidente, carnavalesco, puxadora e até samba-enredo, composto por Mingau, Maurício Maia e Djalma Falcão, da ala de compositores da Grande Rio. "Três jornalistas vão dar nota mínima para a escola. Eles vão alegar que, no desfile, havia elementos que não existiam na época, como telefone celular", avisa Aguinaldo Silva.

Cenário

Não é a primeira vez que uma novela da Globo aproveita desfile de escola de samba para gravar cenas de Carnaval. Há quatro anos, o diretor Jayme Monjardim produziu imagens para O Clone durante a evolução da Grande Rio. A experiência foi tão bem-sucedida que, no ano seguinte, Wolf Maya fez o mesmo durante o desfile da Porto da Pedra para O Quinto dos Infernos. "A idéia surgiu para mostrar que a minissérie foi muito parecida com um enredo de escola de samba. Contei a história do Brasil de um jeito alegre e colorido", observa Carlos Lombardi. Antes disso, porém, novelas como Partido Alto, de 1984, tiveram de promover um desfile particular de Carnaval, com a participação de mil passistas de seis diferentes escolas de samba. A gravação, dirigida por Roberto Talma na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio, durou cerca de 12 horas.

Mas nem sempre foi fácil para os autores falar de Carnaval, escolas de samba e, principalmente, de "banqueiros do bicho" na tevê. O primeiro a fazê-lo foi Dias Gomes em Bandeira 2, de 1971. O bicheiro Artur do Amor Divino, o Tucão, caiu nas graças do público e consagrou o ator Paulo Gracindo. "Como na ditadura militar contraventor não podia ficar impune em novela, mataram o Tucão na quadra da Imperatriz Leopoldinense no último capítulo", lembra Mauro Alencar, consultor da Globo e autor do livro A Hollywood Brasileira. A comoção foi tanta que, no dia seguinte, um jornal carioca da esquerda radical, Luta Democrática, estampou em letras garrafais a manchete "Morreu Tucão!".

De fato, nem só de confete e serpentina é feito o Carnaval. A festa de Momo já serviu de inspiração também para desfechos trágicos. Na minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, adaptada pelo mesmo Dias Gomes da obra de Jorge Amado, o malandro Vadinho, interpretado por Edson Celulari, é morto durante o desfile do bloco Filhos de Gandhi em Salvador, na Bahia. Em Felicidade, novela escrita por Manoel Carlos a partir de contos de Aníbal Machado, a porta-bandeira Tuquinha Batista, vivida por Maria Ceiça, é assassinada pelo próprio diretor da escola, que acredita que ela o trai com o mestre-sala. "Na hora da gravação, muitos atores se emocionaram de verdade. A cena acabou e o pessoal continuou chorando…", orgulha-se a atriz.

Fashion

Ao longo dos anos, autores e diretores procuram dar asas à imaginação na hora de escrever e dirigir cenas de Carnaval. Em Um Anjo Caiu do Céu, Antônio Calmon trocou as tradicionais fantasias de piratas e odaliscas por modelitos mais "fashion", com inspiração cibernética e assinatura da figurinista Emília Duncan. Já Walcyr Carrasco, de Chocolate com Pimenta, optou por mostrar um Carnaval mais pudico e recatado, com muitos pierrôs, colombinas e arlequins. Solange Castro Neves, de Quem é Você?, também quis inovar. Inspirada no Carnaval de Veneza, que acabara de conhecer em viagem à Itália, propôs um autêntico baile de máscaras à direção da Globo. "Infelizmente, o Herval (Rossano) não conseguiu verba para gravar em Veneza e reproduzimos as cenas na Globo mesmo. Não ficou a mesma coisa…", lastima ela.

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