Guerra nos filmes: A vingança das pipocas

Neste final de semana o cinema teve duas estréias que comparam a proporção do nível cultural da sociedade brasileira e a lotação de suas salas. Uma é Quanto vale ou é por quilo?, em cartaz desde anteontem em circuito nacional, é o novo filme do cineasta paranaense Sérgio Bianchi. Nesse trabalho ele levanta questões polêmicas acerca do modo de vida socioeconômico que une o presente ao século XVIII. O diretor mostra as semelhanças entre o mercado escravocrata e a atual miséria da população.

A idéia central do filme é por em xeque a existência de organizações não governamentais (ONGs) e instituições sem fins lucrativos. A outra estréia, tão esperada por milhões de brasileiros, é o terceiro capítulo da saga Star Wars, A vingança dos sith, de George Lucas, que custou US$ 113 milhões. Os dois primeiros episódios levaram 5,6 milhões de brasileiros ao cinema.

O filme brasileiro levanta uma questão sobre o Terceiro Setor – se ele cumpre com a proposta de amenizar as mazelas sociais. Confessando não ter se aprofundado em pesquisas sobre o Terceiro Setor, Bianchi coloca a falta de estrutura com que essas empresas trabalham e a corrupção correndo solta em seus bastidores. Segundo dados do IBGE, no Brasil existem 1,5 milhões de pessoas empregadas por instituições sem fins lucrativos; entre salários e remunerações, o valor gerado chega a R$ 17,5 bilhões. Se a boa notícia é que mais de 1 milhão de pessoas estão empregadas por essa estrutura, a má é que o propósito pelo qual ela existe, a filantropia e a caridade, parece estar esquecida, pelo menos na visão de Quanto vale ou é por quilo?. Sem dúvida um tema a ser discutido.

Durante as próximas semanas, é fácil prever que as salas de cinema estarão mais cheias do que os sacos de pipoca que elas vendem. E o filme que será mais assistido, e mais comentado, todos nós sabemos, afinal, a saga das guerras estelares levanta questões importantes sobre o Império e a República (ficção criada por George Lucas), em guerra há 28 anos na vida real. A qualidade das animações criadas por Lucas é tão boa que as vezes é difícil distinguir o real do sintético. Em mundos distantes da realidade, cavaleiros jedi tentam defender a república dos lord sith. E espera lá, finalmente teremos a oportunidade de ver Anakin Skywalker tornar-se o temido Darth Vader.

A pergunta que não quer calar é quantos milhões de pessoas deverão assistir ao filme de Sérgio Bianchi. Mais difícil de prever; mesmo que ele acuse milhares de organizações sociais de usurpar o dinheiro privado e governamental para sustentar uma classe corrupta, a maior parte dos espectadores nem ouvirá falar em Quanto vale… quanto vale o que mesmo? 

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