Grupo Tapa inicia mostra com três peças em SP

São Paulo – No mundo inteiro, companhias permanentes têm entre seus méritos a manutenção de peças em repertório. Mantidas pelo poder público e estabelecidas num teatro fixo, oferecem a seus espectadores a possibilidade de, às vezes numa mesma semana, ver em cena a montagem de um clássico e um texto contemporâneo. Tal prática aprimora os intérpretes e aguça o olhar crítico do espectador que, por sua vez, se torna mais exigente, estimulando ainda mais o rigor dos criadores. Companhias permanentes estabelecem referências, até mesmo para serem contestadas, muitas vezes pelos artistas que formaram.

Em solo nacional não existe a figura jurídica da companhia nacional – o Uruguai tem a sua, a Argentina três delas – e ainda são tímidos os programas de manutenção de grupos. Ainda assim, companhias sobrevivem, formam atores, se aperfeiçoam em todo o País e, o mais incrível, conseguem manter espetáculos em repertório. Com 25 anos de existência, o Grupo Tapa, dirigido por Eduardo Tolentino, é um entre outros bons exemplos. Sem patrocínio no momento e sem sede fixa – mantém um galpão para ensaios e guarda de cenários, mas não tem teatro próprio -, o Tapa tem um grande sucesso em cartaz no Teatro Imprensa, A importância de ser fiel, de Oscar Wilde, em cartaz há dois anos. E anteontem iniciou uma mostra com três outras peças de seu repertório – Executivos, Contos de sedução e A mandrágora – no Teatro Sérgio Cardoso e com ingressos a preços populares.

Executivos, texto do francês Daniel Besse, vencedor do Prêmio Molière 2001 em Paris, foi a primeira a estrear, sexta-feira. No elenco, atores há muito ligados ao grupo, como Zécarlos Machado, Norival Rizzo e Riba Carlovich, e, ainda, o conhecido e premiado Hélio Cícero como convidado.

Uma das vantagens, para o espectador, da apresentação simultânea dessas peças, é poder observar abordagens diferentes de um mesmo tema que vem sendo pesquisado pelo grupo – o pensamento das classes dominantes. Em Fiel, importante é o nome, a família, a origem. Já em Executivos, o nome pouco importa; o poder está no comando dos grandes conglomerados empresariais.

Como se sabe, na peça de Oscar Wilde um homem finge chamar-se Fiel e provoca a paixão de uma jovem de elite. Sua tia, vivida por Nathália Timberg, tenta impedir o casamento depois de conferir posses e, sobretudo, origens familiares do pretendente. Já em Executivos, o espectador vai acompanhar a competição selvagem, cruel mesmo, entre os funcionários de uma grande empresa na disputa de um contrato bilionário.

Na peça A mandrágora, o autor, Nicolai Maquiavel (1469-1527), flagra o momento em que poderes há séculos dominantes, como o da Igreja, e ainda valores morais arraigados começam a ceder espaço para um novo e poderoso substituto – o dinheiro. "Nessa peça a gente pode ver o nascimento do mercantilismo que, ao fim, vai resultar no capitalismo do século 21, abordado em Executivos", observa Tolentino. Na comédia A mandrágora, a mais recente montagem do grupo – estreou em julho e volta ao cartaz no Sérgio Cardoso em abril -, o jovem florentino Calímaco é tomado por furioso desejo por uma mulher casada e recatada. Rico, ele vai corromper, comprar mesmo, desde o confessor da jovem até a mãe do objeto de seu desejo para, ao final, conquistar a moça, graças aos seus ardis e, sobretudo, ao seu dinheiro.

Antes de A mandrágora será a vez de entrar em temporada, no dia 11 de março, na mostra, a peça Contos de sedução, texto de J.E. Amacker inspirado em contos do francês Guy de Maupassant (1850-1893). Criado em 2000, esse é o único espetáculo do repertório que escapa ao tema pesquisado pelo grupo nos últimos anos. Nesse caso, os contos escolhidos pelo autor retratam o comportamento amoroso – a sedução do título – de personagens de classes sociais bem diferentes. Com duplas formadas por atores talentosos, como Zécarlos Machado e Clara Carvalho, esse delicioso espetáculo caiu nas graças do público, sempre um bom motivo para voltar ao cartaz.

Serviço – Executivos. 110 min. 14 anos. Teatro Sérgio Cardoso – Sala Sérgio Cardoso (886 lug.). R. Rui Barbosa, 153, (11) 288-0136. 6.ª e sáb., 21h; dom., 19h. R$ 20. Até 6/3.

A importância de ser fiel. 120 min. Livre. Teatro Imprensa (500 lug.). R. Jaceguai, 400, (11) 3241-4203. 5ª a sáb., 21h; dom., 19h. R$ 20 (5ª e 6ª); R$ 30 (dom.); R$ 40 (sáb.). Até 27/2.

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