Grupo Corpo comemora 30 anos no palco

?O que dizer sobre os 30 anos do Grupo Corpo? Que estamos como em Onqotô, sempre com as mesmas perguntas: Onde estou? Para onde iremos??, diz o coreógrafo Rodrigo Pederneiras. Na última semana, o Corpo estreou em São Paulo o espetáculo Onqotô, para celebrar o trigésimo aniversário da companhia que conquistou o Brasil e o mundo. As novas coreografias contam com trilha composta por José Miguel Wisnik e Caetano Veloso.

São Paulo (AE) – Fundado em Belo Horizonte, em 1975, o Grupo Corpo é uma companhia de dança contemporânea, eminentemente brasileira em todas as suas criações. Sua carreira vem sendo marcada por sucessivas metamorfoses, mas sempre norteada por três preocupações: a definição de uma identidade, vinculada a uma idéia de cultura nacional (com toda a fluidez que isso implica); a continuidade do trabalho, pensado a longo prazo; e a integridade na sustentação de padrões auto-impostos de elaboração.

Depois de muitos anos,
o sucesso ainda faz
parte da rotina do grupo.

Seu primeiro espetáculo, Maria Maria, foi um recorde de produção local: percorreu 14 países e foi dançado no Brasil desde 1976 até 1982. Coreografado pelo argentino Oscar Araiz, Maria Maria teve  música de Milton Nascimento e roteiros de seu letrista Fernando Brant. O último trem, também de Araiz, consolida a primeira fase do Grupo Corpo, acentuada por uma visão particular de dança brasileira.

A fundação do grupo ocorreu por iniciativa de Paulo Pederneiras, que trouxe para a empreitada seus cinco irmãos e mais alguns amigos. Seus pais cederam a casa onde moravam para ser a sede do Corpo. Paulo Pederneiras, diretor geral, viria depois a assumir também a iluminação dos espetáculos; Rodrigo Pederneiras, que inicia como bailarino, será o coreógrafo de praticamente todos os trabalhos do Corpo a partir de 1981. Dos demais fundadores do grupo, vários permanecem até hoje, como Pedro Pederneiras, Carmen Purri, Miriam Pederneiras e Cristina Castilho.

Identidade e renovação

Mistura de ritmos e cores
das roupas dão destaque
ao cenário das apresentações.

Vistos agora, de trás para frente, fica claro como um balé leva a outro, mas também como o outro reinventa o anterior. E o que este tipo de reinterpretação demonstra é que o Corpo já não é só o nome de uma companhia, mas de um repertório, quase uma tradição.

Manter viva essa tradição é a tarefa que a companhia se impõe. Sua identidade se renova exatamente ao ser capaz de mudar. O que garante a sua continuidade é a idéia do que pode ser uma dança brasileira – como representação e, ao mesmo tempo, um desafio para nossa idéia de nós mesmos.

Onqotô

Em Onqotô, espetáculo que estreou nesta semana, os bailarinos dançam questões existenciais que nos perseguem desde sempre. O título é uma brincadeira com o jeito mineiro de perguntar: onde estou? Inspirado pelas músicas que falam da criação do universo e das origens da humanidade, Rodrigo explora os movimentos horizontais. ?Essa busca pelas raízes está refletida na coreografia, quando os bailarinos ficam mais próximos do chão. Em outro momento, todos estão muito próximos, dando a sensação de enclausuramento?, explica. ?Onqotô é um trabalho dramático, que possui um lado de extrema delicadeza e outro de forte violência, por tratarmos da solidão do homem diante do universo.?

Uma das cenas marcantes é do bicho pequeno, que surge da terra. Helbert Pimenta, em primeiro plano no palco, surge como uma massa, apenas os músculos se movem suavemente até chegar na figura de um homem. Em um segundo plano, outro bailarino dança em ritmo acelerado. ?Essa é uma variação. Uma pessoa encurralada que no final se torna uma massa: o que somos hoje.?

Como é de praxe, o espetáculo é uma criação conjunta.

A iluminação de Paulo Pederneiras brinca com a percepção do público. Freuza Zechmeister usa os figurinos para mostrar, em primeiro momento, o nadinha que é o homem. ?No início, bailarinos e cenário se fundem, o que eu chamo de buraco negro. Todos vestem preto, um único bloco sem forma. Depois, humanizo os intérpretes. Surgem as cores, que criam volumes no espaço?, diz.

Para completar o programa, a abertura teve a apresentação da romântica Lecuona. Inspirado nos versos da trilha (?Frente ao infindo/costas contra o planeta/sem direção/instintos e sentidos?), Paulo Pederneiras concebeu um cenário de 9 metros de altura, circular, que tira todas as referências da cena, isola o bailarino no espaço e coloca-o perplexo diante da vastidão do mundo.

Depois de São Paulo, Onqotô vai para o Rio, Belo Horizonte, Brasília e sul do País.

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