Globo homenageia Jorge Amado com a microssérie Pastores da Noite

A Bahia da malandragem romântica de Jorge Amado – com suas ladeiras povoadas de boêmios, seus terreiros de candomblé e “casas de perdição”- já serviu de inspiração para diversas produções televisivas. A novela Gabriela Cravo e Canela, com a brejeiríssima Sônia Braga, e as minisséries Tenda dos Milagres e Dona Flor e Seus Dois Maridos, na Globo, são apenas algumas delas. Agora, a baianidade inzoneira de Jorge está de volta à telinha, na microssérie Pastores da Noite -que, segundo a emissora, será também uma homenagem ao escritor baiano, falecido em agosto de 2001.

Baseada em obra homônima de Jorge, Pastores da Noite estréia nesta terça, e se estende em quatro episódios semanais, no horário do Brava Gente, até 17 de dezembro. A cada semana, uma história diferente movimenta a vida de cinco amigos de malandragem. Cabo Martim, Curió, Massu, Pé-de-Vento e Jesuíno são vividos, respectivamente, por Du Moscovis, Matheus Nachtergaele, Lázaro Ramos, Luiz Carlos Vasconcelos e Tonico Pereira. “O roteiro explora a malandragem ingênua dos anos 60”, define Sérgio Machado, que assina a adaptação ao lado de Guel Arraes e Cláudio Paiva.

Para Matheus Nachtergaele, o grande diferencial de Pastores da Noite, em relação a outras adaptações da obra de Jorge Amado para a TV, está na profundidade dos temas. “Desta vez, a concepção não ficou plana, rasteira. Só a coisa do malandro, da mulata… O texto do Jorge Amado tem vários sentidos, várias leituras, e a adaptação conseguiu reproduzir bem todos estes conteúdos”, elogia.

A microssérie, ambientada em Salvador dos anos 60, foi feita em película – para abrir a possibilidade de uma versão para o cinema. As filmagens começaram em setembro, em Salvador, onde a equipe passou duas semanas. O restante foi rodado em Sepetiba, no litoral do Rio de Janeiro, e nos estúdios do Projac, centro de produção da Globo, no Rio. “Cada cena leva um tempo seis vezes maior do que numa produção televisiva típica”, explica o diretor geral Maurício Farias. Para Tonico Pereira, no entanto, o ritmo é puxado. “Me sinto fazendo cinema, com as exigências e o preciosismo do cinema, mas no ritmo acelerado da televisão”, garante o ator, que também integrou o elenco de Gabriela e de Porto dos Milagres, adaptação das obras Mar Morto e A Descoberta da América pelos Turcos, exibida em 2001 na Globo.

Ao lado de veteranos como Tonico, Matheus e Fernanda Montenegro, que interpreta a cafetina Tibéria, também estão atores que já trabalharam em cinema e só agora fazem sua primeira incursão pela televisão. O baiano Lázaro Ramos, por exemplo, é o protagonista de Madame Satã, de Karim Aïnouz, e vai aparecer em mais três longas no ano que vem. Já o paraibano Luiz Carlos Vasconcelos tem uma considerável lista de filmes no currículo, entre eles O Baile Perfumado, de Paulo Caldas, Abril Despedaçado e O Primeiro Dia, de Walter Salles, e Estação Carandiru, de Hector Babenco, com estréia prevista para 2003. Lázaro também está no filme de Babenco e, no ano passado, chegou a recusar um papel em novela por causa das filmagens. “Mas adoraria continuar fazendo televisão”, garante. Já Luiz Carlos é mais “cabreiro”: “Aceitaria somente trabalhos como Pastores, obras fechadas e de qualidade. Não faria uma novela só por dinheiro, por exemplo”, garante.

É provável que Pastores da Noite incremente a carreira cinematográfica de Lázaro e Luiz Carlos. De fato, emplacar uma versão para a tela grande é a expectativa do diretor de núcleo Guel Arraes, que já transformou em filmes as microsséries O Auto da Compadecida e Caramuru -A Invenção do Brasil, mesmo tendo sido produzidas em vídeo – HDTV.

Para Du Moscovis, porém, o que vale mais é participar de uma obra de qualidade. “Se virar filme, ótimo. Se não virar, tudo bem. Já vai ter valido a pena contracenar com esse elenco e fazer um trabalho de primeira linha”, valoriza.

Os episódios da microssérie

Dia 26/11

O Casamento do Cabo Martim

O episódio explora a surpresa dos amigos diante do casamento do Cabo com Marialva, papéis vividos por Du Moscovis e Camila Pitanga. Os amigos não querem acreditar que o Cabo, velho companheiro de noitadas, tenha abandonado a boêmia para se dedicar exclusivamente à esposa e à vida de casado – ainda que Marialva seja uma bela mulata. Até Tibéria, personagem de Fernanda Montenegro, que todos respeitam como uma mãe, fica decepcionada. Mas a história se complica quando Curió, feito por Matheus Nachtergaele, se apaixona por Marialva.

Dia 3/12

“O Compadre de Ogum”

A história gira em torno do negro Massu, interpretado por Lázaro Ramos. Ele um dia recebe uma “encomenda” das mãos de uma desconhecida -papel de Dirce Migliaccio. Trata-se de um bebê lourinho, de cabelos lisos e olhos azuis, que ela diz ser fruto de um dos relacionamentos casuais dele. Massu decide batizar o menino e convida Tibéria para ser a madrinha. O problema é decidir qual dos pastores será o padrinho. A disputa entre eles fica acirrada.

Dia 10/12

A Nova Paixão de Curió

A trama mostra a aventura de Curió com a trambiqueira Madame Beatriz, vivida por Daniele Winits. Ela e seu comparsa, Dudu – personagem de Chico Diaz – articulam um plano para enganar o ingênuo Curió. Ela diz ser vidente e finge estar apaixonada só para levar o dinheiro do rapaz, que imagina ser um homem rico.

Dia 17/12

Um Vestido Para Otália

O ultimo episódio de Pastores da Noite começa com a chegada de Otália à cidade, para trabalhar no Castelo de Tibéria. Na bagagem, a jovem carrega uma boneca, símbolo de sua pureza. Cabo Martim logo se apaixona por ela, que sonha em se casar de vestido branco, véu e grinalda. Só que, provocado por Chico Pinóia, personagem de João Miguel, Cabo Martim acaba preso. Para livrar o amado da prisão e reabrir o bordel, Otália se entrega a Chico, o que deixa Cabo profundamente magoado.

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