Fogo Encantado no Calamengau

Uma boa razão para deixar de lado a velha mania curitibana de se encorujar debaixo das cobertas, em noites glaciais como promete ser a de hoje: o Cordel do Fogo Encantado se apresenta logo mais no Espaço Calamengau (Sociedade Vasco da Gama). Se tiverem sobrevivido à hipotermia, Lirinha e seus companheiros de Arcoverde (PE) prometem uma aula do que de melhor a cultura popular nordestina produziu nos últimos anos.

Para nós, que nos debatemos em busca de uma identidade cultural, é uma experiência única. Formado em 1997 a partir de um espetáculo teatral baseado em música e poesia, o Cordel virou banda em 1999, no Festival Rec-Beat de Recife, mas não abriu mão dos elementos cênicos: poesias e textos se alternam com as músicas.

Menos de quatro anos se passaram, e os meninos do agreste pernambucano trazem hoje na bagagem o último Prêmio TIM de melhor grupo regional (a única banda independente contemplada), Prêmio Hangar e Prêmio BR-Rival, ambos de 2002 como melhor grupo, apresentação na última edição do Free Jazz Festival, turnê internacional com 11 shows pela Europa e participação na trilha sonora do filme Deus é Brasileiro, de Cacá Diegues, em que também atuam.

Antológicos

E não é para menos: os dois discos do grupo – Cordel do Fogo Encantado (2001) e O Palhaço do Circo sem Futuro (2002) – são bons, merecem integrar a discoteca básica de todo brasileiro. Mas os shows são antológicos. Valendo-se basicamente de instrumentos de percussão, com apenas um violão fazendo a harmonia, o Cordel promove espetáculos incendiários, densos e pesados. Lirinha, com seu carisma e poesia afiada, adquire contornos quase messiânicos, hipnotizando as platéias mais arredias. Não há nada elétrico, apenas voz, pandeiro, percussão e violão, mas a força das interpretações provocam mais impacto que todos os deuses da guitarra juntos.

A explicação talvez esteja na inusitada alquimia da formação: à poesia oral herdada dos cantadores de Lirinha, soma-se o virtuosismo emepebístico do violão de Clayton Barros, o DNA roqueiro de Emerson Calado e a riqueza rítmica e melódica dos cultos afro-brasileiros, trazida pelos percussionistas Nego Henrique e Rafa Almeida. Sem mais delongas, ir ao show do Cordel do Fogo Encantado é nada menos do que uma obrigação.

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Hoje, a partir das 22h, no Espaço Calamengau (rua Roberto Barrozo, 1.190). Ingressos antecipados a 15 reais, à venda no Armazém do CD, Café do Teatro e no local. Informações pelo telefone (41) 338-7766.

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