Festival de teatro Cena Contemporânea destaca criação documental

Na edição em que comemora seus 20 anos, o Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília compõe uma mostra tão vasta quanto diversificada. Ao todo, são 29 espetáculos, sendo nove internacionais, nove de grupos brasilienses e nove produzidos em outros Estados do País. No ano passado, foram 23 atrações. A curadoria, formada por Alaôr Rosa e Francis Wilker, deu especial projeção a trabalhos desenvolvidos com base em depoimentos pessoais e que fazem uso de recursos audiovisuais e de cinema.

Dentro desse panorama, o potiguar Grupo Carmin apresentou Jacy. A história dessa montagem começou quando o diretor Henrique Fontes encontrou uma frasqueira na qual havia objetos pessoais de uma mulher idosa. O achado inquietou a trupe, que se pôs a investigar o passado da personagem, que ganhou projeções nacionais. A vida de Jacy foi mesclada com a realidade política do Rio Grande do Norte e a ditadura brasileira.

O grupo entrou em contato com amigos e familiares da mulher e se deparou com detalhes de sua rotina, gostos e amores. Para dar corpo à narrativa, o Carmin criou uma dramaturgia audiovisual com um câmera que captava detalhes dos objetos da frasqueira e projetava as imagens em um telão atrás dos atores. Em uma das cenas, é reproduzida uma árvore genealógica do governo potiguar. Nela, o histórico de corrupção e as relações criadas em prol do poder dão condições de compreender um Brasil passado e quanto isso desemboca na atual cena política nacional.

Outra montagem que carrega características semelhantes surgiu de uma parceria entre o grupo da Geórgia Akhmeteli Theatre e o diretor brasiliense Rodrigo Fischer. O espetáculo 2+2=2 ganhou estreia durante o festival, que vai até o dia 30 de agosto, e trouxe ao palco um elenco de músicos que reconta, com depoimentos pessoais, a história de uma mulher que não consegue lidar com seu sentimento de ciúme do marido. Na composição da trama, uma atriz acompanhava a cena com uma câmera que reproduzia imagens em um telão no palco.

A montagem, entretanto, ganhou ruídos ao empreender uma mistura confusa de idiomas como o espanhol, o inglês e o georgiano agravada por problemas nas legendas. Com a clara pretensão de brincar com ficção e realidade, a peça acabou por reforçar estereótipos ocidentais, como o do músico galã que faz sucesso com as mulheres e o da esposa ciumenta que fica em casa à espera do marido. Na solução da crise, a mulher cede, abandona seus sentimentos se transfigurando em um gato. Com seu apelo ao riso fácil, o espetáculo serviu ao entretenimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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