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Exposição reúne 200 obras de 40 contemporâneos portugueses no Museu Afro Brasil

Segunda exposição da trilogia dedicada às raízes da cultura brasileira, Portugal Portugueses – Arte Contemporânea, aberta nesta quinta-feira, 8, no Museu Afro Brasil, é a maior mostra de arte sobre o país irmão realizada no Brasil, reunindo 200 obras de mais de 40 artistas de diferentes gerações, do modernismo de Vieira da Silva à contemporaneidade de Cabrita Reis. Portugal Portugueses foi precedida na trilogia por Africa Africans, eleita pela Associação Brasileira dos Críticos de Artes como a melhor exposição de 2015, antecedendo a mostra programada para o próximo ano sobre arte indígena no Brasil.

“A exposição celebra uma união de encontros e desencontros do que foi e do que é a nossa formação como povo, declarado independente por um português e um brasileiro, Pedro IV, rei de Portugal, que se tornou D. Pedro I, imperador do Brasil”, define o curador da exposição e diretor curatorial do Museu Afro Brasil, o escultor Emanoel Araújo. A mostra exigiu dele dois anos de pesquisas e viagens a Portugal, mas não tem caráter didático nem pretende esgotar o assunto arte contemporânea portuguesa, diz ele.

Há, por exemplo, artistas na mostra que hoje são mais brasileiros que portugueses, pelo tempo que moram no País, como Ascânio MMM, Antonio Manuel, Artur Barrio e Fernando Lemos. Outros, como a pintora Vieira da Silva, residiram no Brasil e estabeleceram vínculos estreitos com artistas brasileiros, influenciando várias gerações. Há, ainda, os contemporâneos portugueses que participaram de tantas mostras no Brasil a ponto de serem considerados de casa, como Cabrita Reis e José Pedro Croft.

Na seleção dos 40 artistas da mostra, Emanoel Araújo concedeu especial atenção às pioneiras modernistas que, segundo ele, continuam inspirando os contemporâneos portugueses, como Vieira da Silva (1908-1992), Lourdes Castro e Ana Vieira (1940-2016), morta em fevereiro deste ano. Há, de fato, entre as figuras recortadas de Lourdes Castro, que vai completar 85 anos, e a série Close Up, de Ana Vieira, um diálogo sutil sobre projeções, sombras e jogos de espelhos que criam a plataforma ideal para a discussão contemporânea sobre identidade e diferença.

O núcleo das mulheres modernas é um dos vetores da exposição, que abriga as mais diferentes linguagens e suportes. Nela há espaço tanto para as cores pop do pintor português José de Guimarães, que viveu em Angola, como um painel de conteúdo político do angolano Yonamine, artista que fez parte da mostra Africa Africans. Nesta, ele exibe uma instalação com 3 mil fatias de pão torrado com a imagem do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Não é preciso ser versado na história do país africano para reconhecer a metáfora do pão queimado associado ao chefe da nação.

Há diversos exemplos de arte engajada na exposição, entre eles os grandes painéis pintados por Gonçalo Pena, investigações de caráter antropológico e histórico em que cabem pequenas referências ao passado colonial brasileiro e à independência do Brasil, confirma o artista, enquanto retoca a figura de D. Pedro I, em pleno grito às margens do Ipiranga.

Outro artista que explora a correspondência antropológica entre antípodas é Albuquerque Mendes. Em sua série Pau-Brasil, uma pirâmide de retratos de uma mesma pessoa pintada como representantes de diferentes etnias mistura-se a paisagens que se mostram simulacros das pinturas dos holandeses viajantes. Albuquerque chama a atenção para outras pinturas que trazem elementos tomados de modernistas brasileiros, como os balõezinhos dos quadros de Guignard. Também na linha do revisionismo histórico, João Fonte Santa replica os registros da viagem pelo Brasil do zoólogo Von Spix e do biólogo Von Martius (de 1817 a 1820).

Entre as instalações dos contemporâneos se destacam o Feijoeiro, de João Pedro Vale e Nuno Alexandre, que ocupa todo o subsolo do museu com collants verdes, arames, espuma e cordas, usados para reproduzir o pé de feijão do popular conto infantil. Joana Vasconcelos, a garota terrível das bienais, comparece com um pantagruélico coração vermelho que pulsa sobre as cabeças dos visitantes. Entre os portugueses radicados no Brasil, destaca-se a instalação de Antonio Manoel, Frutos do Espaço, estruturas associadas à diagramação de jornais, exibida ao lado da obra Nave, uma cabine com um saco que despeja pingos d’água sobre um aparelho de televisão, deformando as imagens sobre a superfície da tela.

PORTUGAL PORTUGUESES – ARTE CONTEMPORÂNEA

Museu Afro Brasil. Parque do Ibirapuera, portão 10, tel. 3320-8900.

3ª a dom., 10h/17h. Grátis.

Até 8/1/2017

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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