Evolução da Medicina e a Santa Casa

No decurso dos 150 anos de existência da Irmandade da Santa casa Misericórdia de Curitiba, fundada em 9 de junho de 1852, a assistência à saúde da comunidade passou por diversas fases. Hoje, a Santa Casa é dirigida pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e integra a Aliança Saúde da PUC. Porém, a primeira etapa iniciou-se em 1852, em modestas instalações situadas na então Rua Direita, atual 13 de Maio.

Antes desse acontecimento que marcou a existência da irmandade, mediante o início das atividades hospitalares, já em 1843, um grupo de idealistas fundou a sociedade denominada Fraternidade Curitibana, com o nobre objetivo da prática de atos de benemerência, principalmente aos indigentes e desvalidos. Tinha sua sede junto ao pátio da matriz, na confluência da então Rua Fechada, hoje José Bonifácio, com a Praça Tiradentes, onde está o Edifício Nossa Senhora da Luz. Referido imóvel foi doação do padre Antônio Teixeira Camello, falecido em 24 de abrild e 1847, aos 63 anos de idade.

Para melhor avaliação do que foi a assistência à saúde na época em que a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba começou as suas atividades, faz-se imprescindível tecer algumas considerações sobre a precariedade da Medicina de então, as quais bem justificam a sabedoria popular de que “a dor ensina a gemer”. Ou seja, mediante o lançamento de criatividade capaz de superar as deficiências.

Daí o grande empenho desenvolvido em todo o mundo, resultando muitas e importantes conquistas. Embora não comporte aqui o registro minucioso dessas conquistas, é de justiça e de reconhecimento citar nomes de estudiosos, como Lennec (1781-1826), que idealizou o estetoscópio, instrumento indispensável na prática médica, o qual foi, gradativamente, aperfeiçoado. Há que enfatizar ter Lennec contribuído ponderavelmente na evolução da Medicina. Outro cientista que enriqueceu a Medicina foi Claude Bernard (1813-1878). É considerado o Pai da Fisiologia. A ele deve-se o conhecimento das glândulas digestivas, particularmente do pâncreas e a produção experimental da diabete.

Na cirurgia, destaca-se Dupuytren (1777-1835). Os seus ensinamentos atraíram médicos do mundo inteiro. O maior entrave da cirurgia era a dor. Wirchow (1821-1902) é considerado o criador da doutrina celular.

As infecções hospitalares, que merecem atenção especial hoje, constituíam, então, verdadeira tragédia. Era uma luta inglória contra inimigos desconhecidos, ocultos. Coube a Louis Pasteur (1822-1895), considerado o Pai da Medicina Moderna, provar a existência dos microorganismos e suas múltiplas ações, com a possibilidade de aumentar-lhes ou diminuir-lhes a virulência e utilizá-los para obter imunidades. Pasteur é o criador da Microbiologia e das vacinas, com destaque a anti-rábida, contra a raiva.

Joseph Lister (1827-1912) publicou, em 1852, um trabalho sobre “Gangrena nos hospitais”. Lançou-se ao estudo da antissepsia; e o fez com base nos estudos de Pasteur, com quem se associou, mediante intercâmbio de pesquisas. Do método antisséptico, chegou-se à assepsia, com o emprego da esterilização a vapor.

Depois de Pasteur e Lister, uma sucessão de cientistas contribuiu para o avanço no combate às infecções. Em 1890, Halsted introduz o uso de luvas de borracha. Vieram, em seguida, as máscaras, os aventais esterilizados e outros processos para esterilização do material cirúrgico, das compressas, dos campos operatórios e dos fios de sutura. Já não eram permitidas cirurgias assépticas em salas onde houvesse sido praticada cirurgia em paciente com infecção, sem que fossem desinfectadas.

Albert Calmet (1863-1933) descobre o BCG, vacina contra a tuberculose. Reclus (1847-1914) emprega a cocaína na anestesia. Koch (1841-1917), cujo nome está ligado às pinças cirúrgicas que idealizou, foi quem descobriu o germe causador da tuberculose: o Bacilo de Koch. Foi em 1891 que definiu o tratamento da conhecida peste branca, doença temível e devastadora de vidas humanas, já considerada por Hipócrates como a mais grave e mais espalhada das doenças e a mais fatal entre todas. Em 24 de março de 1842, Koch comunicou oficialmente à Sociedade de Fisiologia a causa da tuberculose, devida à bactéria “Mycobacterium tuberculosis”.

Madame Curie (1867-1934) descobre o Raio X que, para orgulho da medicina brasileira, o médico radiologista Manuel Dias de Abreu (1894-1962), idealizou o método univeral de recenseamento torácico denominado Abreugrafia, em honra ao seu idealizador.

Feitas estas considerações, cumpre destacar que foi neste universo da medicina que a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba iniciou suas atividades.

Ary de Christan

é professor aposentado da PUCPR, ex-provedor da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, atual presidente da Federação Brasileira das Academias de Medicina.

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