Ettore Scola celebra romanos em novo filme

O cineasta italiano Ettore Scola presta uma homenagem aos romanos e à cidade em que vive há mais de meio século com “Gente di Roma”, que estreou na Itália há poucos dias.

“É um filme que existia em minha cabeça há muito tempo” ? declarou Scola, de 72 anos e três infartos, dos quais se recuperou muito bem ? “mas Fellini, com seu ?Roma?, havia se antecipado a mim”.

Scola acrescentou: “Decidi fazer este filme porque envelhecendo as pessoas se tornam mais ousadas, mais atrevidas e o julgamento dos demais me preocupa cada vez menos. Por outro lado, ?Roma” é um filme feito há mais de 30 anos e é mais Fellini que Roma”.

O diretor italiano dedicou o filme, “inevitavelmente”, a Alberto Sordi, para quem escreveu alguns roteiros muito divertidos, como os de “Mi permette babbo”, “Il conte Max” e “Lo scapolo”. Scola também dirigiu Sordi em um de seus melhores e mais incompreendidos filmes, “La più bella giornata della mia vita”, que acabou de ser projetado, em cópia nova, no mais recente Festival de Locarno.

“Sordi queria ser parte do filme, mas não em uma aparição veloz como a de Anna Magnani em ?Roma?”, recordou Scola, que lhe prometeu criar um papel, que o comediante italinao não conseguiu, porém, completar, devido ao seu estado de saúde, que piorou repentinamente e levou-o à morte, em fevereiro passado.

Scola reconhece que não foi fácil retratar Roma em uma hora e meia de filme. “O romano é um tipo vaidoso e prepotente, que fascina e repele ao mesmo tempo as pessoas de fora. Além disso, depois da Segunda Guerra Mundial a cidade se expandiu em subúrbios mais ou menos degradados, com o resultado de que é quase impossível sintetizá-la”.

Muito acertada e cada vez mais atual foi a comparação do arquiteto e prefeito de Roma Carlo Giulio Argan, que considerava a cidade uma “polenta esparramada”.

Scola prepara filme com Gérard Depardieu

“Gente di Roma” é praticamente um documentário, filmado em digital durante quase um ano e meio. Sua homenagem à cidade pode ser compreendida como uma resposta aos insultos do partido político Liga Norte e seu líder racista e feroz crítico da capital, Umberto Bossi.

“Na verdade, comecei a filmar muito antes que Bossi começasse a falar besteiras contra Roma”, afirmou o cineasta. “O cinema é um paquiderme que se move lentamente e não consegue estar no ritmo da realidade, apesar de, às vezes, intuí-la com uma certa antecedência. Mas é impossível contestar todos os disparates que nosso governo diz diariamente. A única coisa que digo é: ?Tenham cuidado com Milão. Foi daí que vieram Benito Mussolini, Bettino Craxi e agora Silvio Berlusconi e Umberto Bossi”, completou Scola.

Ettore Scola é, junto com Mario Monicelli, que tem 16 anos a mais que ele, o único dos grandes diretores da comédia à italiana clássica que continua em plena atividade.

“Estou preparando um filme que rodarei em Paris com Gérard Depardieu fazendo o papel de um livreiro. Escrevemos juntos o roteiro. E antes de morrer gostaria de voltar a fazer a direção de um ópera, já que minha estréia no ano passado com ?Così fan tutte?, de Mozart, não foi tão mal”.

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