Eterna caça de novos talentos

Para quem produz novelas e minisséries, o trabalho dos atores é fundamental. As emissoras precisam ter grandes elencos à disposição. Por isso, tanto Globo e SBT – atualmente as duas emissoras brasileiras que produzem novelas – devem estar atentas aos novos atores que surgem em todo o Brasil.

Na Globo, no entanto, o esquema para se encontrar novos talentos é considerado estratégico. “Um dos maiores ativos da Globo é o elenco. Informações dessa natureza não são divulgadas”, justifica a Central Globo de Comunicações para não aprofundar o assunto. Posição completamente diferente da do SBT, que se orgulha de ter seis mil atores cadastrados. “A maioria vem do Sul e do Sudeste”, observa Fernando Rancoletta, diretor de elenco do SBT.

Na verdade, existem vários caminhos para novos atores ganharem uma oportunidade na televisão brasileira. Normalmente, os locais que servem para arrebanhar novos talentos são as escolas de dramaturgia, as agências de modelos, as peças teatrais e filmes. O fato da maioria dos atores com papéis de destaque nas tramas serem da região Sudeste é compreensível. É em São Paulo e no Rio de Janeiro que se encontram os núcleos de teledramaturgia da Globo e do SBT e também onde se concentram o maior número de escolas especializadas em arte dramática. Para Beto Silveira, professor paulistano de estrelas como os cariocas Humberto Martins, Flávia Alessandra e Deborah Secco e a paulistana Ana Paula Arósio, há uma explicação para atrizes novatas virem cada vez mais do Sul. “Elas são encontradas pelas agências de modelos, que realizam concursos na região, e tentam virar atrizes para ampliar o campo de trabalho. Poucas conseguem, muitas não”, analisa Beto.

Via teatro

O teatro também acaba sendo um local para os novos atores serem fisgados pelas emissoras. Atualmente, por exemplo, dois paranaenses têm personagens de destaque em “Esperança”. Simone Spoladore e Ranieri Gonzalez, intérpretes de Caterina e Maurício respectivamente. Ambos primeiro desenvolveram carreiras teatrais em Curitiba antes de serem chamados pela Globo. “O Ranieri já era famoso no Paraná, mas como só apareceu agora na Globo, as pessoas acham que ele surgiu do nada”, ressalta Guta Stresser, a Bebel de “A Grande Família”, outro rosto paranaense na Globo.

O sotaque é outra dificuldade para os atores de fora do eixo Rio/São Paulo. Não que cariocas e paulistanos deixem de ter seus sotaques característicos. É que o “carioquês” e o “paulistanês” já são ouvidos nacionalmente desde a fundação da tevê no Brasil, na década de 50, e por isso se tornaram uma espécie de “padrão televisivo aceitável” de pronúncia. Bárbara Paz foi uma que superou esta dificuldade. Do interior do Rio Grande do Sul, a atriz foi escolhida para protagonizar “Marisol” após vencer a primeira edição do “Casa dos Artistas”. Bárbara se esforça para neutralizar o “gauchês” ao interpretar. “Só assim posso ganhar papéis de destaque na tevê”, confirma. Mais que o sotaque, a fisionomia é determinante nestes casos. Dira Paes, por exemplo, que nasceu no Pará, teve mais oportunidades no cinema, que investe na beleza tipicamente brasileira, do que na tevê, que prefere os traços europeus mais encontrados em pessoas do Sul. “Atores do Norte e Nordeste, com semblantes mais brasileiros, geralmente ganham papéis menores ou característicos na tevê”, reclama Dira.

Quatro atores após 700 testes

Só pelos testes do SBT para conseguir atores para “A Pequena Travessa”, produção que vai substituir “Marisol” em novembro, dá para ter noção do “funil” que é para um ator novato ganhar uma chance. Para a nova produção, o SBT fez 700 testes durante sete dias, para escolher quatro atores para o elenco fixo de “A Pequena Travessa”. Entre eles, dois cariocas, Marcelo Pio e Sérgio Modena, e dois paulistas, Welcio Junior e Renata Sayuri.

Já as produções históricas são outra chance de atores de estados fora do eixo Rio/São Paulo aparecerem. Em “A Casa das Sete Mulheres”, por exemplo, minissérie que relata a Revolução Farroupilha e que a Globo estréia em janeiro de 2003, o protagonista será o gaúcho Werner Schünemann no papel de Bento Gonçalves. A porta de entrada na Globo para o ator foi o cinema. Apesar de já se destacar no cenário gaúcho, foi com o filme “Netto Perde a Sua Alma”, em que ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília em 2001, que chamou a atenção de Jayme Monjardim.

Caça chega até ao exterior

Atualmente, além de atores fora do eixo Rio/São Paulo, a Globo também vem buscando profissionais fora do país. É o caso dos portugueses Maria João e Duarte Guimarães, ambos no elenco fixo de “Sabor da Paixão”, e de Nuno Lopes, o João Manuel de “Esperança”.

* Outra fonte de novas atrizes que a Globo explorava eram as ajudantes de palco de Xuxa, as paquitas. Letícia Spiller, Bárbara Borges, Bianca Rinaldi e Juliana Barone são algumas delas que seguiram a carreira de atriz.

* As passarelas e ensaios de moda também são vitrines para a televisão. Ana Paula Arósio, Maria Fernanda Cândido, Silvia Pfeifer e Reynaldo Gianecchini se destacaram como modelos antes de ingressar na televisão.

* A gaúcha Araci Esteves, que interpreta a italiana Constancia em “Esperança”, estreou na televisão na novela das oito da Globo. A atriz já fazia teatro no Rio Grande do Sul desde a década de 60 e se destacou como protagonista do filme “Anahy de Las Missiones”, de 1997.

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