Estréia na Record nova versão de A Escrava Isaura, novela de grande audiência há 28 anos

Depois do retumbante fracasso de Metamorphoses, a Record teria todas as razões do mundo para não querer ouvir mais falar em novelas. Afinal, a pífia audiência de cinco pontos da produção, terceirizada pela independente Casablanca, ficou muitíssimo aquém dos 20 prometidos. Mas, como o gênero é indispensável para quem ambiciona a vice-liderança no Ibope, a emissora volta a investir em novelas. A “reinauguração” do núcleo de teledramaturgia da Record acontece segunda-feira, quando estréia A Escrava Isaura, a mais nova versão do livro homônimo de Bernardo Guimarães.

A adaptação está sob responsabilidade da dupla Tiago Santiago e Anamaria Nunes e a direção, do veterano Herval Rossano, que dirigiu a primeira versão da novela, escrita por Gilberto Braga e exibida pela Globo em 1976. “Para falar a verdade, nem lembro direito daquela versão! Mesmo assim, sei que a Globo é uma potência e tenho de respeitá-la. Mas não vou ficar devendo nada a ninguém”, promete.

O diretor tem razão quando afirma que a Record investiu pesado na produção de A Escrava Isaura. O orçamento da novela, segundo a emissora, é de US$ 80 mil por capítulo, algo em torno de R$ 240 mil, mais que numa produção das oito da Globo. Para produzir a novela, a Record desembolsou US$ 8 milhões na aquisição do que existe de melhor em equipamentos com tecnologia digital. Só a compra de um moderno caminhão-switcher-ilha de edição custou a bagatela de R$ 4,2 milhões.

Sem comparações

Para interpretar a personagem-título, Herval Rossano escalou Bianca Rinaldi. A ex-paquita, no entanto, não foi a primeira opção do diretor. Antes dela, Herval já havia testado Mel Lisboa e Cléo Pires. Com 29 anos e cinco novelas no currículo, Bianca jura não temer comparações com Lucélia Santos, a Isaura da versão original. “As comparações vão existir, é natural, mas não estou preocupada com elas. Tenho de ser fiel ao livro e não à interpretação da Lucélia. A Lucélia fez a Isaura dela e eu vou fazer a minha”, ressalta. A escrava branca que sofre horrores nas mãos do cruel senhor de engenho não é a primeira protagonista da carreira de Bianca. Ela já encabeçou o elenco de Pícara Sonhadora e A Pequena Travessa, ambas do SBT.

Já Leopoldo Pacheco, de 44 anos, chega a protagonista de A Escrava Isaura depois de uma discreta participação em Um Só Coração. Na minissérie da Globo, ele interpretou o libanês boa-praça Samir. Por coincidência, Leopoldo está tendo a oportunidade de contracenar com o ator que deu vida ao Leôncio na primeira versão de Escrava Isaura, o veterano Rubens de Falco, de 73 anos. Mesmo assim, Leopoldo garante que, mais do que se inspirar no Leôncio de Rubens de Falco, está buscando referências no Visconde de Valmont de John Malkovich, um dos protagonistas de Ligações Perigosas, adaptação de Stephen Frears para o famoso romance de Choderlos de Laclos.

Rubens de Falco que o diga. Embora se orgulhe de outros trabalhos que fez ao longo da carreira, como as novelas O Grito, de Jorge Andrade, e A Sucessora, de Manoel Carlos, ele admite que Leôncio foi mesmo um personagem inesquecível. Tão inesquecível quanto a cena em que põe fogo na cabana com Tobias e Malvina, personagens de Roberto Pirillo e Norma Blum, lá dentro. “Aquilo foi lindo, épico!”, saliva. Apesar de ter entrado para a história da teledramaturgia brasileira como o mais sádico de todos os vilões, Rubens de Falco garante que jamais levou uma guarda-chuvada na rua. “Na minha rua, inclusive, tem um grupo de pagodeiros que, sempre que eu passo, toca o ‘lerê, lerê’ no maior respeito”, gaba-se, numa referência ao famoso refrão da música Retirante, composta por Jorge Amado e Dorival Caymmi especialmente para a primeira versão da novela, mas que será também usada na versão da Record.

De volta ao tronco

O diretor Herval Rossano não dá o braço a torcer. Mas deixa transparecer, a todo instante, que não digeriu bem sua dispensa da Globo, em agosto de 2003, depois de quase 30 anos. Na emissora, ele colecionou sucessos, como A Sucessora, Carinhoso, Maria, Maria e, é claro, A Escrava Isaura. Depois que saiu da Globo, Herval produziu e estrelou a peça Fica Combinado Assim e foi sondado para assumir o núcleo de teledramaturgia da Band. No final das contas, fechou com a Record, onde dá expediente desde julho no lugar de Del Rangel.

Durante anos, A Escrava Isaura foi considerada a novela de maior sucesso internacional da Globo, por ter sido vendida para mais de 100 países. Recentemente, ela perdeu o primeiro lugar para Terra Nostra, de Benedito Ruy Barbosa, já comercializada para quase 120 países. Mesmo assim, A Escrava Isaura entrou para a história por interromper um conflito armado na Croácia, mudar o horário das reuniões de Fidel Castro em Cuba e promover um concurso de sósias de Isaura e Leôncio na Polônia. “Considero que 70% do sucesso da novela se deva a Lucélia. Ela imprimiu uma empatia absoluta à personagem. Em Cuba, ela é santa até hoje”, brinca Edwin Luisi, o abolicionista Álvaro da primeira versão.

E não foi só em Cuba que a atriz foi “beatificada”. Na China, Lucélia foi a primeira estrangeira a receber o Prêmio Águia de Ouro, um dos mais importantes do país, por sua atuação na novela. Na primeira vez que visitou o país, foi ovacionada por 20 mil chineses em um estádio de futebol. Quanto tentou visitar a famosa Muralha da China, quase não desfrutou do passeio. “Teve gente que escalou a muralha só para me ver”, lembra, espantada.

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