Estranha no ninho

Celina, interpretada por Ângela Vieira em Cobras & Lagartos, está no núcleo mais "venenoso" da trama. Mas apesar disso, a personagem vive alheia às tramóias dos membros de sua família. A doce e frágil Celina é enganada, em sua própria casa, por marido, filhas e enteado. A própria atriz, no entanto, é a primeira a sair em defesa de sua personagem. Isso porque ela acredita que, de boba, a empresária não tem nada. Ao contrário. Apesar da singeleza, Ângela aposta que Celina vai sacar todas essas falcatruas num futuro breve e terá uma nova história na trama de João Emanuel Carneiro. "Essa novela tem muitas surpresas pela frente. Não precisa que a Celina também se revele mau-caráter", brinca.

P – É interessante uma personagem ingênua numa trama cheia de "malandros"?

R – Eu estou gostando de fazer a Celina. Ela não é uma personagem de comédia. Ao contrário, é totalmente centrada, muito verídica e contida. O ator é muito seduzido por essa questão de personagem. Todo ator quer ter uma personagem legal para poder se divertir, para poder elaborar. Eu saí da Gisela, de Senhora do Destino, que era aquela pessoa totalmente fora da realidade e marcou muito.

P – Que diferenças você vê entre a Celina e a Gisela, de Senhora do Destino?

R – A Celina é uma mulher urbana que se veste muito bem, mora numa casa linda, é bem-casada. Todos esses componentes existiam na Gisela. Mas elas são completamente diferentes do ponto de vista afetivo. E, ao contrário da Gisela, a Celina está longe de ser fútil. Ela é trabalhadora, situada, informada. Agora, quero com essa novela me despedir por uns tempos das personagens elegantes e chiques. No próximo trabalho, gostaria de puxar mais para o humor ou fazer uma trama de época.

P – Em algum momento você sentiu qualquer pressão para que Cobras & Lagartos fosse bem em relação à audiência?

R – Primeiramente, senti muitíssimo que Bang Bang não tenha tido boa audiência. Mas não senti receio algum. Na verdade, gosto de fazer boas personagens. O ator tem muito disso. Às vezes você faz um trabalho por um salário menor porque, artisticamente, ele dá prazer. Outras vezes você joga até com um salário alto porque, do ponto de vista artístico, aquilo não é tão atraente.

P – Como atriz, você viu alguma dificuldade em se fazer uma novela das sete?

R – É um horário muito difícil. Acho que diretores, autores e elenco, em sua maioria, já vão fazer a novela das sete apreensivos. A novela das oito é uma trama que já tem uma audiência garantida pelo horário independentemente de ser cativante ou não. Já a novela das seis, a Globo, particularmente, está se especializando em novelas de época o que para as senhoras e para quem já está em casa é muito agradável de ver. E a novela das sete fica no limbo.

P – Diante dessa responsabilidade, que tem uma obra neste horário, como você avalia o autor João Emanuel Carneiro em relação ao universo popularesco criado em Cobras & Lagartos?

R – Nunca tinha trabalhado com o João. Assisti a uma parte de Da Cor do Pecado. O ibope depois revelou que a obra foi um sucesso. Então, acho que ele conseguiu burlar essa questão. Cobras & Lagartos é bastante falada nas ruas. O engraçado é que existe um comentário de que essa trama tem cara de novela das oito. Temos autores como o Aguinaldo Silva, que toca o realismo fantástico, como o Maneco, que traz o naturalismo da família e do cotidiano. Acho que o João misturou as duas coisas.

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